FÉ. UM EMAIL.

Não pude responder a vocês antes, estava ocupado. O nosso Pery questionou inicialmente o indevido do médico que promove o “espantástico” - uma hora de lazer, não para mim - transformada em terror. Por quê? Vende para os ignaros. E dei curso ao que colocou para sua prima, Dona Dirce que agora com o Paulinho adita sua caminhada de fé. Ela no questionamento rico nos aponta ter outras óticas, mudado de pensar, a livre escolha a nós delegada pelo Cristo, Paulinho em sua liberdade de crer como todos temos alinha seu posicionamento que fala em invalidar tradições. Estou comprometido na obrigação de dizer algo.

Fé é avançar na dúvida.

A inteligência é pequena para explicar a vida e imensamente limitada para entender a morte. Por isso essa permanente e abrangente procura. É a inevitabilidade.

Não sabemos nós, os que conhecem sua estatura e as variantes humanas, de nada além da fé nas questões transcendentais. Da mesma forma como não conheceram os grandes do pensamento humano, inúmeros de nota e nomeada, aos quais nem de longe nos aproximamos em apreensão.

Não se perde o que não se tem, fique claro, e quem tem a pretensa onisciência sofre sem maiores percepções por falta de avaliação, é o sofrimento por não entender o que não está disponível para si, perseguindo o que não lhe foi dado, sem sedimentação razoável, e isso passa despercebido. É a perda do invisível que se quer visível, mais intensa do que a perda material que está em todos os lugares.

A inteligência que nos foi dada tem limites, e a compreensão, esta sim, necessita ser gigantesca e ilimitada para compreender e alcançar a simplicidade que se despoja da vontade de enxergar o que pensa que vê, mera ilusão. Lembrem-se de São Tomé privilegiado por Cristo, um fato isolado. Cristo era o Filho de Deus. Nem se compare a reencarnação de Cristo com toda a soma incalculável de reencarnações sinalizadas pela mente humana a partir de um criador humano desse credo, cujos restos mortais visitados estão no Père Lachaise em Paris, criação respeitável, como tudo que é legítimo e não invade direitos consagrados.

O voo da águia está nas alturas favorecido, tudo enxergando para refazer o ciclo da natureza na cadeia ambiental. É simples de entender como perceber que a pretensão de saber além da dúvida frequenta abismos e enormes restrições por um simples motivo, a medida de nossa inteligência. Nenhuma alma superior foi além do que lhe tombava sob os sentidos, aqueles que deixaram para a humanidade grandes escolas. Somente pela fé se vai além.

A raiz que foi terra, átomo fragmentado até a última partícula conhecida, modifica-se para voltar a ser terra com a semente deitada ao solo. O filhote dos grandes animais é antes fragilíssimo até se tornar imbatível como o elefante.

Nada que ocorre sob o sol foge de uma razão da criação e só a simplicidade que reconhece sua impossibilidade de ir além de intimidados dons pode aceitar com serenidade a bela passagem que se faz em matéria, embora a despedida seja sempre traumática. E tudo em que se crê é válido afastado do monopólio da verdade que não existe e da captação e cooptação da vontade dos incautos. A mercancia da fé, seja qual for, de migalhas ou fortunas, que cobra e vende serviços e milagres como granel, como acontecido no Maracanã tempos atrás, onde se disse que todos jogassem os óculos fora, pois iriam enxergar, é mera exploração de infantilizados.

Não podemos invalidar crenças, nem os órgãos que deveriam fiscalizá-las podem, e deviam. Já interferi nesse anfiteatro sem muito êxito anos atrás, o voto dessa massa é mais forte. Se pudéssemos invalidar crenças, como diz Paulinho, tentaríamos, já tentei por contraditarem a ordem pública. Podemos neutralizar o que não aceitamos como fé, tornar inválido o que foi escrito é impossível. Aceitar ou não difere de tornar inválido o que o Estado autorizou.

Nem a inquietude da noite interminável da busca da fé tem esse poder, invalidar. As tradições de uma igreja a nós passada pela família também não são expurgadas, nem podem. Fosse assim nossos filhos e netos não seriam batizados nem casaríamos filhas e filhos, e nós mesmos casamos, na tradição da igreja católica, digamos, criada por São Paulo. Apologia do paradoxo é impossível, não tenho como praticar tal exercício.

É fácil como se vê e eu mesmo aponto, reiteradamente, criminalizar a igreja, como nos pedófilos e todas as outras sortes de desvios que alinho também e censuro, mas estamos criminalizando homens, não a instituição, mas ninguém diz que a igreja é a maior instituição assistencial do mundo, faz dois mil anos, fora a cultura que nos trouxe dos mecenas do renascentismo. Um pequeníssimo exemplo. Meu avô italiano, pobre, veio da segunda guerra fugido com a família que colocou internada nos Salesianos no Brasil, uma das maiores instituições católicas do mundo. Todos se formaram de forma brilhante em cursos superiores. É um exemplo de outros milhões e milhares de casos que assim ocorreram e ocorrem até hoje.

A instituição é dos homens, a igreja foi feita pelos homens, pecadores. Agora, mostrando o exemplo de Caim pela inveja praticada, o mesmo culto que manda atirar óculos e faz milagres de enxurrada, faz construir um Templo de Salomão, maior que o de Aparecida e que o Vaticano, São Pedro. Esquece que nunca chegará próximo da instituição acreditada em todo o mundo como raiz, pois nela se proclama um Cristo confiável, que não vende prosperidade, não cobra serviços espirituais, mas os sacramentos tradicionais, dispensados os que não podem pagar.

Um jornalista famoso que escreve no Globo diz que esse templo foi construído pela fé. Não foi, foi construído pela captação de vontade dos incautos que querem ascender como eleitos, filhos de Deus, se não consignarem boletos não serão eleitos, não serão filhos de Deus. É uma subida de estágio social possível. E diz o jornalista, sem um tostão da “víuva”, leia-se cofres do Estado. Errado, a imunidade constitucional que favorece as crenças faz com que esses credos, “comerciais”, não paguem tributos. Mais uma vez perdão por me alongar. Celso

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 04/08/2014
Reeditado em 04/08/2014
Código do texto: T4909275
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2014. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.