Pai

Faz 14 anos que “ Papai “ ( como sempre chamávamos mesmo já crescidos ) não está mais conosco . Apesar de ter sido um alcoólatra inveterado, não são as lembranças deste problema e suas marcas que me ficaram gravadas na memória.

Lembro-me com nostalgia do seu outro lado, lado sóbrio, silencioso e atencioso ...

Lembro-me dos “ quadradinhos “ de madeira que trazia do seu serviço e alegres brincávamos montando casas e cidades...

Lembro-me dos móveis muito bem feitos , sendo que alguns resistem até hoje , fazendo-nos lembrar do seu ofício..

Lembro-me dos seus discos de música clássica que ouvia em alto e bom som, inundando a casa e nossos ouvidos ...

Lembro-me dos muitos filmes a que assistia , especialmente as inúmeras vezes que assisti em sua companhia “ Dr. Jivago “, sendo que a música tema do filme até hoje toca em meu pensamento e ilumina meu coração ... ( Aliás , acho que vem daí o gosto pelo cinema que todos nós os seus filhos têm ).

Lembro-me das voltas que dávamos pela “vila” em sua bicicleta, cada um esperando a sua vez ...

Lembro-me principalmente do seu semblante, sentado ao lado do fogão à lenha , tomando seu chimarrão e ouvindo rádio ...

E nunca me esqueço de como me chamava : “ Minha professorinha “...

Saudades de um passado que não volta , mas as lembranças ninguém nos tira ...

Por que as pessoas escolhem determinados caminhos e muitas vezes não querem ser salvas, nunca saberemos , como diz Drummond “Todo ser humano é um estranho ímpar.”

Elisângela Bankersen
Enviado por Elisângela Bankersen em 04/08/2014
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