Pequenos adereços
Sou uma pessoa objetiva (ou pelo menos gosto de pensar assim). Não perco tempo com o que não tem nenhuma importância prática. “E um abraço?”, pergunta a minha psicóloga. Ultimamente ela acha que eu preciso abraçar mais. Ora, um abraço! Um abraço tem importância prática em alguns contextos, respondo (bem se vê que o caso é grave: eu estou achando que para abraçar é preciso de contexto). Também não tenho muitas preocupações estéticas, normalmente com a justificativa de que, no fim das contas, ficará tudo para os vermes. Com tais pensamentos, não é de se estranhar que não exista no meu quarto o menor vestígio de um enfeite. Para quê? Que função ele teria no contexto de um homem que mora sozinho e precisa dar duro para se sustentar? Tomaria o espaço de alguma coisa útil e importante – e espaço é o que mais falta no meu quartinho.
Mas não sou, apesar disso, um caso perdido. No apartamento da minha mãe, comecei a reparar nos pequenos adereços que estão lá unicamente para deixar o ambiente mais bonito. Na sala, há vários vasos de plantas, coisas que são mantidas a custo de muito cuidado e atenção. Não sei o nome delas, mas pareceu-me uma coisa muito simpática alimentá-las com água e vê-las crescendo. Também há duas flores de plástico coloridas e outra com o rosto de uma boneca, logo ao lado de um cisne de vidro. Outras duas bolas de vidro que simulam o fundo do mar completam os enfeites da estante. Na mesa do computador há um pratinho de lembrança de viagem e uma vela decorativa em forma de botão de rosa. Mais ao lado, há ainda dois porta-retratos, um deles com fotografia minha.
O que mais entra em conflito com a minha natureza é o arranjo floral em cima da mesa de jantar. Afinal, ele precisa ser tirado de lá toda vez que se arruma a mesa. Por que não deixá-lo fora de uma vez, pergunto. E, no entanto, não posso negar que fica muito mais bonito desse jeito. Estou quase convencido de que isso vale a pena mesmo. Em alguns contextos, é claro.