POR QUE AS MARGARIDAS?
A flor aformoseia-se toda, na singeleza das multicoloridas perfumadas pétalas de que a compõem, para o início da magia linda da reprodução da planta. Pela variedade de cores, pelo seu perfume, pela sua beleza e por tudo que nos encanta a flor simboliza a festa eufórica da vida.
Os amantes conquistam suas amadas com as flores que oferecem.
Que seriam dos jardins sem as flores? Das festas e dos altares? As sepulturas não se cobrem de tristeza quando as flores estão por ali!
Aprendi a gostar das flores com minha mãe - a fada das flores - e depois com minha avó - o anjo das margaridas.
Aprendi simplesmente a gostar!
Aprendi em casa, quando com minha mãe as cultivava, e com a minha doce avozinha ao ajuda-la no plantio, no arranjo e na colheita.
Que lindo era ver minha vó Rosália cuidar com esmero e carinho as margaridas que plantava!
As margaridas que minha vó plantava eram lindas, sempre floridas e pareciam ter uma magia esplendorosa. Eu ficava, ao pé da escada, sentado, horas e horas, absorto admirando aquela linda criatura lidando com as flores como se elas fossem filhos seus. Para mim ali estava uma maravilhosa tela ao natural. Resolvi melhorar o ambiente de trabalho para ela. Preparei então um canteiro, fofando a terra, cercando com tijolos para a terra não ruir. Semeei as sementes de margarida e o restante deixei por conta da babka.
Como era formoso o canteiro florido de margarida na casa de minha doce avozinha! Eu acho que para repousarem os anjos armavam suas camas ali.
Aprendi que as margaridas transmitem inocência, pureza, simplicidade, lealdade e criatividade, e era isso que eu via naquele quadro quase todo em branco pintado de amarelo com aquela linda senhora tão amorosa no meio dele.
Mas por que tanta afeição por este espécime?
- A babka gosta de margarida, não é mesmo? Às vezes eu perguntava só para ouvi-la falar, naquele seu portunês muito carregado.
- Sim, eu gosto porque aprendi com seu dziadzio a gostar delas!
Assim eu deduzi.
- As flores eram para meu avô, então! Mas por que as margaridas? E a dúvida permaneceu se contorcendo além.
Na minha cabeça martelava sempre a pergunta:
- Por que as margaridas?
Todos os sábados, bem ao amanhecer, lá iam eu e ela colher no jardim as flores mais bonitas, e prepará-las em um buquê. Ela se punha toda bonita, e depois do café tomado, descíamos até o cemitério para visitar o túmulo de meu avô Silvestre. O cemitério não ficava muito longe, e em poucos minutos estávamos lá para o mesmo cerimonial de sempre – limpar o jazigo, jogar as flores murchas, e colocar o buquê fresco de margaridas. As orações em polonês, e algumas lágrimas em seguida, eram constantes.
Em silêncio, nada dizia, apenas colocava minha mão no ombro dela.
- Por que as margaridas? Um dia, quando retornávamos do cemitério, perguntei para ela. Ela me segredou, rindo feliz. Por certo ao voltar ao tempo em que meu avô era vivo.
- Sempre quando seu avô ia caçar, ao retornar com as codornas, não deixava de trazer para mim algumas margaridas que ele colhia, aqui e ali, pelo campo florido. Ao entregar o maço de margaridas carinhosamente me dizia
- Moja milosci, as margaridas são quase tão lindas quanto você!
Seu olhar, naquele azul celeste, perdeu-se por alguns instantes no tempo; Um longo silêncio, e por fim, olhando para mim completou:
- Devolvo as margaridas para ele com o mesmo carinho que as recebi.
Naquele momento, comovido, senti um intenso perfume de margaridas e no murmurar do vento me pareceu ouvir meu avô dizendo: - Moja milosci.