Holocausto

O holocausto não é para todos: apenas os maiores de 12 anos que agendarem com antecedência, lerem as regras, apresentarem documento com foto, deixarem seus pertences nos guarda-volumes, passarem pelo detector de metal e se comprometerem a não tirar fotografias é que conseguem entrar no único museu sobre o tema no Brasil. Se fizerem isso na manhã de domingo, terão direito a um guia, que muitas vezes é o neto de uma família judia que foi vítima do nazismo. É ele quem explica que o museu tem, sobretudo, uma função pedagógica. E que o holocausto é um exemplo extremo de como o preconceito pode levar à violência humana.

O exemplo, como se sabe, não costuma ser considerado. Tanto que o museu conta com a exposição “A que ponto chegamos?”, com a citação de inúmeros outros genocídios empreendidos pelo mundo afora nos últimos anos – um muçulmano notaria a ausência dos conflitos em Gaza. Mas o foco é mesmo o da Segunda Guerra Mundial, com fotos, vídeos, mapas, materiais diversos e, sobretudo, histórias. Daquelas que envergonham não os alemães, mas o ser humano.

Recentemente o museu fez uma exposição sobre crianças: as infâncias roubadas no holocausto. E viam-se algumas delas caminhando rumo à câmara de gás. Por coincidência, li ontem a crônica da Mariana Ianelli chamada “A revanche das crianças”. Ela cita o filme “Quién puede matar a um niño?” (1976) – um filme em que as crianças são dissimuladas e perversas como adultos, assassinas como pássaros de Hitchcock. Um filme que teve como motivação episódios reais em que crianças foram vítimas de guerras – parecidíssimos com os que vemos no noticiário hoje. E termina o texto com a sombria sugestão de que um mundo de crianças assassinas é um terror possível.

Os tempos não estão para previsões mais otimistas. Estamos comprometidos com a intolerância e não nos reconhecemos nas lições do passado. E menos ainda nos reconhecemos no outro – este ser que, a menos que o exterminemos, sempre fará parte do nosso convívio.