A vida é um conto de fadas... ao menos para alguns e por algum tempo
Não me lembro exatamente onde esta história começou, mas deve ter sido num dos passeios que meus pais costumavam fazer em Teresópolis. Eles iam à frente conversando em alemão e nós, crianças, íamos fechando a retaguarda, matraqueando em português. Numa curva do caminho, ou pede ter sido uma reta, não me lembro bem, no sentido oposto ao nosso, vinha uma senhora e uma criança mais ou menos da nossa idade. A medida que a gente se aproximava os olhares da senhora tornavam-se mais insistentes, visivelmente interessada na conversa dos adultos. Abordou-nos e se apresentou. Era a governanta alemã do menino que, se não me falha a memória, chamava-se Eduardo Guinle. A conversa foi curta, pois o assunto era pouco, mas, ao se despedir, a governanta convidou a nós, crianças, para no dia seguinte ir fazer-lhes uma visita.
Fomos. Eu, muito tímido e muito envergonhado, relutei, mas os outros insistiram. Chegamos até o portão de onde se abria um imenso jardim francês, gramados a estender de vista, pequenos canteiros floridos muito bem cuidados e lá longe, algumas construções. O porteiro nos mandou esperar e depois de alguns minutos, surgiu a governanta e o menino da véspera, convidando-nos a entrar. Dirigimo-nos para uma das construções que nada mais era do que uma casa destinada a abrigar as centenas de brinquedos do menino. Uma garagem imensa estava atulhada de carrinhos elétricos e de pedal. Quartos tinham tudo que uma criança poderia sonhar e imaginar, diversos modelos de trem elétrico, uma coleção de carrinhos Schuco, carros para dirigir a distância com cabo, caixas de montar, casinhas de todos os tamanhos, uma cidade em miniatura. Os brinquedos eram tantos que ficamos, qual barata tonta, correndo de um lado para o outro, de um brinquedo para o próximo. O menino, não me lembro muito bem da interação com ele, mas deve ter ficado de dono da bola a comandar as brincadeiras.
Voltamos ainda algumas vezes naquele verão e também nos verões seguintes. Depois, o tempo foi desfazendo a ligação e os interesses e imagino que a partir de determinada época, também o alemão e a governanta. Ficou foi a memória de um mundo dourado, um sonho de riqueza e esplendor.