O meu número

Estava preparando a primeira garfada no meu almoço quando o celular tocou. Normalmente eu não atendo números desconhecidos, mas daquela vez eu resolvi arriscar. “Oi, meu amor, como você está?” – foi o que eu ouvi do outro lado. Bolas, eu não estou acostumado a ser chamado de meu amor, especialmente antes das refeições, de maneira que, mesmo sem ter identificado a voz, eu já fui respondendo que estava tudo bem. “Ai, que ótimo”, disse ela então. E perguntou se eu ainda me lembrava daquele dia. Eu não fazia a menor ideia do que ela estava falando, mas ainda perguntei “Qual exatamente?”.

Antes que me respondesse, ouvi um barulho e logo depois a voz de um homem furioso dizendo para eu ficar longe da mulher dele. E desligou. Acabei concluindo que a mulher queria causar ciúmes e discou o primeiro número que lhe veio à cabeça. O meu número, na verdade, é um dos mais fáceis, serviria perfeitamente para um Disk-Pizza. Volta e meia estou sujeito a confusões semelhantes. Já recebi muitas mensagens por engano (incluindo aí uma bonita mensagem me felicitando pelo Dia da Mulher, e dizendo, entre outras coisas, que nem um dia sequer eu havia deixado de ser mulher. Amei).

O meu número também é um dos mais lembrados por aqueles que querem dar um telefone qualquer que não o seu. Foi isso que fez uma moça chamada Geani: deu o meu número para uma loja de roupas. Agora a loja está atrás dela, que não pagou o que devia, e quem recebe as notificações sou eu. No intervalo de alguns dias, eu recebi as seguintes mensagens, na ordem: 1) Geani, favor dirigir-se a loja mais próxima para tratar de assunto do seu interesse. 2) Geani, o pagamento de seu cartão não foi localizado. Dirija-se a uma de nossas lojas para regularização. 3) Geani, pague sua fatura do cartão e evite o registro de seu nome nos órgãos de proteção ao crédito, SPC e Serasa.

Espero realmente que a Geani pague logo essa conta, pois suspeito que na mensagem de número 4 eles usem palavras de baixo calão.