O ANCORADOURO DO CAIS

Lá naquele cais a ancorar está a mesma barca, que a tempos atrás, retornávamos eu e meu pai de mais um passeio pela baía.

Lembro-me como se fosse hoje das paisagens nuas, dos manguezais escondidos, das palmeiras, das ilhas virgens, das safadas gaivotas que nossa pesca vinham roubar. Do sorriso bobo de meu pai ao me ver atrapalhado tentando fisgar algum peixe.

Lembro-me de cada amanhecer, de meu choro ao ter que ir embora, da alegria que isso transmitia nele, de meus pés formando ondinhas na lateral da barca.

E lembro, como lembro, da apreensão de minha mãe, ansiosa por minha volta. Da inveja de minha irmãzinha que sempre pedira pra ir também.

Guardo na memória o último desses passeios, da falta que me faz o mar, da falta que me faz o pai.

Ah! O mar

O fim de tarde

O fim do sonho

O fim de tudo

O Ancoradouro do Cais.