SÃO SETE HORAS NA MARGINAL DO PINHEIROS
Não anda essa porra! o engarrafamento do caralho é bem maior do que o anunciado pelas emissoras.
Não vou chegar à faculdade a tempo. Tenho compromisso com um cliente. Preciso ver a esposa e os filhos. Caraaaaalho!
Concluo que sou triste. Minha cara no retrovisor é mórbida, nem parece a cara extrovertida de ontem, com uísque, reggae e belas garotas.
Abrir o vidro pra inalar o cheiro insuportável do esgotão chamado rio é bem pior que o gosto da ressaca de ontem.
As caras dos que estão atrás de mim são ainda mais inexpressivas – espio de relance pelo espelho interno. O que está mais próximo, o que vem lá mais atrás, o outro, o outro e os outros todos, de trás, do lado, estão todos depressivos.
Milhares de semblantes carregados, enervados.
Não olho fixamente para o lado. Apenas vejo de esguelha. A marginal está sombria, perigosa, amortecida, odienta. A vida é percebida apenas nas buzinas que ensurdecem e irritam ainda mais. As imprecações são anuladas por elas.