SÃO SETE HORAS NA MARGINAL DO PINHEIROS

Não anda essa porra! o engarrafamento do caralho é bem maior do que o anunciado pelas emissoras.

Não vou chegar à faculdade a tempo. Tenho compromisso com um cliente. Preciso ver a esposa e os filhos. Caraaaaalho!

Concluo que sou triste. Minha cara no retrovisor é mórbida, nem parece a cara extrovertida de ontem, com uísque, reggae e belas garotas.

Abrir o vidro pra inalar o cheiro insuportável do esgotão chamado rio é bem pior que o gosto da ressaca de ontem.

As caras dos que estão atrás de mim são ainda mais inexpressivas – espio de relance pelo espelho interno. O que está mais próximo, o que vem lá mais atrás, o outro, o outro e os outros todos, de trás, do lado, estão todos depressivos.

Milhares de semblantes carregados, enervados.

Não olho fixamente para o lado. Apenas vejo de esguelha. A marginal está sombria, perigosa, amortecida, odienta. A vida é percebida apenas nas buzinas que ensurdecem e irritam ainda mais. As imprecações são anuladas por elas.

Joel de Sá
Enviado por Joel de Sá em 30/07/2014
Reeditado em 30/07/2014
Código do texto: T4903281
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