Olhares que falam
Há um ditado que diz: “um olhar vale mais que mil palavras”. E vale! É algo mágico que arrepia, transpira sentimento.
O olhar das crianças fala. Chateiam-se, alegram-se, pedem, imploram, gritam e amam com seus olhares. Provavelmente nelas esse olhar seja mais latente porque as mazelas do mundo ainda são desconhecidas.
O olhar que fala encanta, cativa, apaixona.
O olhar que fala marca um gol, acelera uma corrida, organiza um evento, promete e cumpre.
Ele ganha água e comida. Água e comida? Sim! O olhar do seu cão fala e você sabe o que ele significa.
Uma mãe com filho portador de alguma necessidade especial entende pelo olhar o que ele quer expressar.
Um casal bem resolvido pode passar um dia inteiro sem falar, comunicando-se pelo olhar. Pode estar com mais de cem pessoas numa festa e saber exatamente o que o outro está pensando. Um olhar determina até mesmo a hora da saída.
Dois olhares que se cruzam podem responder no mesmo tom, tamanha a afinidade, como podem odiarem-se por motivos diversos, sabiamente conhecidos pelos dois.
Um olhar pede perdão e é perdoado. Ora e o Santo entende. Chora e a lágrima cai.
O olhar é irmão do silêncio. Formam uma parceria tão perfeita que faria inveja aos altos decibéis de uma festa com mil pessoas. E a inveja emudeceria todos que se divertiriam com prazer no mais profundo silêncio.
Ele pode ser tão profundo que, no exato momento da sua intensidade, ao falar a pura verdade, dá margem ao precipício ou ao paraíso.
(crônica publicada no livro PROSA NA VARANDA II - lançado em 24/07/2014)