A ESPERANÇA

Diz que era uma senhora de meia idade que precisava viajar. Ela iria amparar a mãe doente numa cidadezinha do interior. Essa doce senhora não tinha dinheiro pra viagem, pois a vida desvencilhou sua crueldade, levando-a a miséria total. Esta foi cena que presenciei na rodoviária de Belo Horizonte. Lá estava a retirante (essa não iria em consequência da seca e nem da lei seca) pedindo um “mango” pra completar a passagem para os mais variados transeuntes. A cena era de cortar o coração; uma senhora maltrapilha dependendo da ajuda alheia. Se aqui couber esse comentário: “Essa é brasileira e não desisti nunca”. De qualquer forma, tenho a convicção que essa cena se repete em todas as rodoviárias do Brasil. Como um brasileiro educado e de bom coração doei dez “mangos” para o farrapo humano. Ao receber a grana e doce senhora disse:

- Obrigado meu filho por me dar esperanças!

Não sei o que se sucedera, pois tomara meu ônibus em direção ao sitio Felicidade pra checar a informação da Mula Marrom (crônica A Relação). Depois de constatado e aprovado o amor do sitiante com a mula, voltara pra Belo Horizonte. Nos meus pensamentos sempre voltara a cruel cena da pedinte da rodoviária. Ela queria apenas dar amparo à mãe doente. “Mas vida continua pra não falar de flores”, como dizia vovó Miralda, então me dirigi até shopping fazer umas compras e tomar um chopinho.

No shopping encontrei a pedinte da rodoviária com umas dez sacolas das mais variadas lojas de grife. Lá estava a senhora de salto alto e com uma roupinha melhor que a minha, imediatamente, disparei uma série de perguntas:

- E a sua mãe doente? E a passagem? E a viagem?

- Fique calmo senhor! Ainda não viajei, pois estou aqui RECUPERANDO A MINHA ESPERANÇA COM O DINHEIRO DOS OUTROS.

Osório Antonio da Cunha
Enviado por Osório Antonio da Cunha em 17/05/2007
Reeditado em 22/05/2007
Código do texto: T490259
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