Ao Henrique nos seus 17 anos
Henrique, creio que você não vai se importar por eu ter mexido nos seus cadernos. Afinal, eu sei que você, no alto dos seus 17 anos, acha que está escrevendo coisas para a posteridade. Pois aqui estou eu, dez anos depois, lendo o que você escreveu e constatando o seguinte: não há nada que se salve. Convenhamos, Henrique: você não está em condições de reescrever o Rubem Braga. Se me permite um conselho, leia mais antes de sair achando que sabe escrever. Sei que você já leu o Dom Quixote e grande parte do Machado (admito: isso será motivo de orgulho no futuro), mas é preciso mais do que isso para ser um escritor. Outra coisa: viva mais antes de sair achando que sabe escrever. Por favor, Henrique, o que é que você sabe da vida aos 17 anos? Muita coisa ainda vai acontecer (deixa eu te dar um spoiler: você ainda vai morar em Curitiba e, acredite, Brasília).
Agora, que texto é aquele que você escreveu contra o alistamento obrigatório? Ainda chamou de “Adeus às armas”, como se alguma vez tivesse lido Hemingway. Louvo-lhe a intenção, mas o texto é de uma ingenuidade grosseira e em dois toques alguém poderia destruir os seus argumentos. E acalme-se também: ninguém da sua cidade irá servir. O texto que escreveu sobre a Flávia não retrata o que foi a história de vocês. Favor rever. Ah, e vou logo avisando que daqui a dez anos você ainda não estará casado, então esqueça a Luciana também. E pare de escrever essas letras de músicas cerebrais, porque você também não é o Humberto Gessinger.
Quanto a esse seu novo vício de pesquisar a árvore genealógica da família, eu sugiro que vá em frente, mergulhe de cabeça mesmo, e daqui a dez anos você vai ver o tanto que já descobriu. Não é por nada não, mas eu também recomendaria que aproveitasse melhor enquanto os seus dois avôs ainda estão por aí. No mais, dê um jeito nessa sua ansiedade, tenha mais coragem e não se deixe nunca envolver pela maldade que existe no mundo. Um forte abraço e até breve.