MEU CASO

Em casos assim é necessário que tenha memoria, fotográfica de preferencia. Ainda mais se tratando de um caso particular, nesse caso o meu caso.

Me lembro bem que já havia visto alguns olhos verdes na vida, mas não iguais aos de dela. Obvio que eu me interessei, vidrei naquele rosto que mas conhecia. As dificuldades eram imensas de cruzar aqueles olhos com frequência e apesar da cidade pequena, o pouco transito e os poucos locais de encontro. Nos cruzamos uma vez ou outra na missa de domingo, as vezes na própria escola que também dificultava as coisas já que eu estudava de manhã e ela no período da tarde, poucas vezes nossos olhares tendenciosos se cruzavam, uma vez ou outra na troca de horário.

Uma vez mais velho, trocamos de escola municipal para estadual. Deixávamos inclusive uma fase, pois tudo seria diferente. No colegial e pelo que que me lembro. Logo no primeiro dia de aula eu vejo e reconheço, dessa vez no mesmo horário que o meu e acreditem se quiserem. Por força maior e por que não pensar assim, ela estava na mesma sala que eu e iriamos dividir semanas ao longo do ano dentro do mesmo ambiente. Não pensei na época mais hoje é claro que está evidente que aquilo foi platonismo puro. Nesse período nos nós conhecemos, trocamos olhares e sorrisos dentre conversas sem finalidades que não poderiam levar a algo em perspectiva. O detalhe é que eu não dizia nada sobre qualquer coisa que podia ajudar ela a gostar de mim, eu não tinha digamos assim a facilidade de me desenrolar com as mulheres e de certa forma eu me sentia bem só de estar perto dela. Era como ter algo que eu não tinha, mas gostava perto de mim. E no final das contas eu sei o que me conectava, quer dizer, descobri isso ha pouco tempo em umas dessas conversas que você, no caso eu, faço comigo mesmo antes de dormir. O ponto onde quero chegar é que eu descobri que o que me atraia e sempre atraiu é a beleza, não apenas no cru da palavra, mas em aspectos visuais e claro que coisas singulares que quando são recordadas passam em slowmotion na sua cabeça. Me lembro bem dos seus olhos, como já disse antes eram comuns a ela e seu rosto e humor que acompanhava lindos cabelos loiros e sutilmente lisos. Um retrato que eu descobri mais tarde ser da Marlyn Moroe. Na minha visão e analise atual soa como comum aos jovens da minha idade naquela época e que até hoje sofrem esse pesar do retrato de Marlyn como ícone da beleza feminina, não que não seja, afinal não deixa nada a desejar para Madonna, Britiney ou qualquer que seja a diva pop. Era do tipo cobiçada por olhares que se cruzavam nos corredores estreitos da escola, onde eu me pegava fazendo o mesmo. Vivia a observar seu nariz pequeno, boca rosada, queixo fino e bochechas levemente avermelhadas pelo fato de viver sorrindo, sempre com os dentes a mostra. Suas bochechas tinham aquele furinho por assim dizer charmoso, que definitivamente são um charme. O melhor de tudo, ela retribuía olhares de quem conquistasse sua atenção, permanecendo com este vidrado até a desistência daquele que teimava em continuar olhando, gostava de jogar, sabia o poder que tinha e sabia usa-lo. O melhor disso é que a gente tinha uma amizade, tinha algo até mais que isso, não sei o real motivo de não ter dado em nada. Meus estranhos hábitos; sempre tímido e demonstrando que estaria ali na hora em que ela precisasse podem ter contribuído e quem sabe e por quem não suspeitar da nossa mesma faixa etária; mulheres são sempre mais velhas psicologicamente falando do que os homens e isso é fato. Talvez pensasse que eu fosse infantil ou apenas um amigo e nada além disso. Dentre todos esses episódios, o que me frusta mas também deixa no imaginário é que nós nunca tivemos nada, nem um romance ou quem me dera um simples beijo de linguá.

Apenas uma coisa suprima todo o resto, que a meu ver era especial e pode-se até dizer que só se consegue sentir essa coisa naquela fase da vida. A sensação de simplesmente gostar de alguém. Sem cobranças ou algo que deteriore a relação, apenas vontades e esperanças de eu estar presente de alguma forma.

Foi assim que o tempo passou, o mundo girou e além dela se foram vídeos games, amigos de sala de aula, CDs, bicicletas, programas de TV dentre tantas outras coisas que o tempo absorve. Não se pode questionar o que devemos fazer em relação a isso, mas quando nos damos conta só estamos com saudade e nada mais.