A literatura está enlutada...

Fico imaginando quem serão os sucessores de Gabriel Garcia Marques, Rubem Alves, João Ubaldo e Ariano Suassuna.

Digo isso, porque a arte de escrever é a arte de se mostrar, já que cada autor se desnuda em sua obra. E nos tempos atuais, esse “se mostrar” tem sido muito mais o “se exibir”. Procurando mostrar não o que se é, mas o que se gostaria de ser deixando, no entanto, de se viver o real, deixando de ousar, deixando de se aventurar, deixando de criar.

A arte é o ofício da criação. Você está fazendo arte? Ou está apenas acordando, se alimentando, trabalhando, deixando o tempo passar sem percebê-lo? Essa é a grande diferença de nós, pobres mortais desses grandes homens que se foram e que muito me amedronta a não existência de sucessores. Gabriel, Rubem, João e Ariano, escreveram suas vidas, seus sonhos, suas fantasias, seus desejos, seus pecados... Acordavam e viam muito mais além do brilho do sol. Levantavam pela manhã, e ao enxergar seus entornos, viam mais que pessoas, viam mais que objetos, viam mais que cidades, carros... Ao se prepararem pra o dia que nascia, ouviam mais que as palavras a eles dirigidas. Ouviam também as palavras que não eram ditas, pois paravam e observavam o que ia mais além...

Viam na beleza da paisagem, o belo que só os que têm sensibilidade de artista, vêem. Ouviam das pessoas, dos sons diversos que nos rodeiam, mais do que estava explícito. Sentiam não só as suas dores, mas atreviam-se a sentir a dor daqueles que ao contrário deles, escondem-nas, com medo de se mostrarem frágeis, com medo de perderem o respeito do outro.

A literatura está enlutada. Será que nesses próximos cem anos, haverá alguém que escreva algo tão interessante quanto os “cem anos de solidão” de Gabriel? Será que nesta vida Caetana, nascerá alguém, pra viver e saldar a vida, provocando a morte através de belas poesias e grandes obras literárias como o fez Ariano? Pois a morte pode tê-lo levado, mas suas obras, essas jamais conseguirá levar. Nem dele, nem dos outros, nem a sua, caso você resolva pôr no papel, tudo aquilo que te faz sorrir, sofrer, viver, sonhar, arriscar ser imortalizado assim como Gabriel, Rubem, João e Ariano.