Conectividade
Acordo, tomo o meu banho, café da manhã na mesa, dia claro, calor. A sinfonia das carruíras me agradam. Lavo a louca, abro a agenda e deparo-me com vários detalhes a serem fechados nesta manhã, antes das onze, quando decido diariamente iniciar o almoço. Retorno ao quarto, olho-me no espelho e percebo que falta uma “corzinha”. Puxo um batom e um colar. Olho para os pés e penso: as rasteirinhas estão muito bem obrigada. Pego a bolsa e penso em sair, não sem antes conectar-me, seja no laptop, IPad ou mesmo smartphone. O mundo pode ter dado uma reviravoltas na noite passada e eu não ter tomado conhecimento. Seria o caos.
Perco uns vinte minutos, abro meu email – das dez notificações, duas aproveitáveis, ou seja, informações úteis, retornos importantes ou tarefas por fazer. Facebook aberto na segunda aba – cinquenta notificações, sendo que dez eu leio, por tratarem-se de citações relevantes, retornos de posts via inbox, post bem humorado com comentários inteligentes e uma foto antiga que me causa saudade. Paro e alegro-me. Relembro a frase “saudade é o amor que fica”, lida em um artigo escrito pelo médico oncologista Rogério Brandão, reproduzindo-a de uma conversa com uma criança, que ele chamou de anjo, que passou por suas mãos. Dou uma olhada nos aniversários e envio felicitações de coração aos que eu sei estão no meu coração. O resto? Pequenos ataques, indiretas com teor pessoal e político e muita exposição de uma Disneylândia que não existe. Uma dúvida: abro o Google e a esclareço, mesmo sabendo que, por viver num país onde o uso da Internet é dos maiores, qualquer coisa pode estar certa ou totalmente errada. Twitter, LinkeIn? Não, hoje não terei tempo. Chateio-me! Por que perder vinte minutos do meu precioso tempo se há tanto que fazer? Minhas plantas pedem água, minha amiga precisa de uma palavra, meu companheiro de um auxílio, minha alma de mais paz ... Quando der. Sim! Quando der, tirarei um tempo e baixarei todos os aplicativos úteis que me farão ganhar mais tempo para fazer o que hoje eu não tenho tempo.
(crônica publicada no livro PROSA NA VARANDA II - lançado em 24/07/2014)