CRÔNICA DE UMA PROFESSORA: Mãe me conta tua história!
Por: Tânia de Oliveira
Ela entrava na sala de aula sempre alcoolizada. Sentava no final da sala... Quietinha, e da História da Filosofia só ouvia até Sócrates. Ela dormia. A partir dos pós-socráticos, o mundo dos sonhos ganhava de mim. A turma “zoava”, mas eu pedia que a deixassem em paz! Mas antes que o ano terminasse, Lenita sumira.
Um belo dia fui ao Centro trocar uma panela de micro-ondas que havia comprado e faltara a mídia de Instruções e Receitas. Levaram-me até a “encarregada”. Quando a moça me atendeu, olhou-me fundo e foi dizendo: - Professora, lembra de mim? A voz, a expressão levou minha memória num tempo distante, mas não chegou. A presença ficou no ensaio. Ela adiantou: - Por Favor, me deixe te abraçar! Você foi uma pessoa de grande importância em minha vida. Sou a sua aluna Lenita que te dava trabalho por causa do álcool. Minha vida mudou quando a senhora Professora desenvolveu um projeto na sala de aula - “A Difícil Vida da Mulher Fácil”.
Lembrei quanto ela me surpreendeu na época. Dedicou-se de corpo e alma ao Projeto.Depois sumiu. Não sabia que havia história triste com final feliz, por trás!
Continuou: - Professora lembra que a senhora apresentou o Projeto dizendo que, por trás de toda prostituta, quase sempre tem uma história triste pra contar? Sabe professora, acho que não foi coincidência o fato de que mesmo embriagada, eu não perdia uma aula sua. Você foi usada por Deus pra me trazer aquele Projeto. É que sou filha de uma Prostituta, cotinuou ela. Essa era a razão de meu alcoolismo. Desde treze anos de idade que ao saber o que minha mãe fazia pra me manter, deixei de falar com ela. No entanto, naquele mesmo dia ao chegar em casa, pedi: - Mãe me conta tua história! E ouvi comovida a história triste dela.
Minha mãe, surpresa, foi logo desabafando:- Oh minha filha, que bom que você voltou a falar comigo. Minha vida é uma história triste. Tudo mudou desde que meu pai morrera. Mamãe casou novamente e meu padrasto entre mentiras e sedução fez minha mãe me ver como rival. Da expulsão de casa para a prostituição foi um passo. Sempre fui mulherão e os homens pagavam bem por isso. Comecei dançando, depois vendi minha virgindade para um velhote rico. Depois disso minha vida virou um lixo... Nunca tive carinho ou proteção de quem quer que seja. Até o dia que engravidei de você. Tomei um pacote inteiro de café, e não abortei. Ah, mas quando descobri que você era uma menina, fiquei satisfeita e jurei que iria lhe dar amor e tudo que não tive nessa minha vida. Veja que até aquela vizinha invejosa dizer a você de minha profissão, nós vivíamos num céu. Eu e você. Infelizmente você me rejeitou... Deixou de falar comigo. Voltei a ficar triste, infeliz. Você, minha filha, foi a única coisa boa que a vida me deu!
Ela continuou:- Sabe Professora... Fiquei tão envergonhada de minha covardia. Minha mãe sempre tão amorosa, tão sofrida e eu a rejeitei. Consegui passar anos sem falar com ela. Ela sempre tão delicada comigo. Acho que era por isso que eu bebia. O muro do preconceito me distanciara dela. Consegui vê-la e naquele momento disse pra ela: - A partir de hoje vou cuidar de você mãezinha. Deixei o Liceu, pedi um emprego chorando e explicando meu caso para o gerente de uma loja no comércio, que me empregou. Hoje estou noiva, Professora. Tenho um apartamento no Zé Tenório, minha mãe é respeitada e eu sou feliz... E um tanto disso devo a você!
Naquele momento nos abraçamos em silêncio e nos despedimos. Voltei pra casa mais leve e com mais vontade de ensinar. De aprender mais com a vida para aprender a melhor ensinar. A ser gente e a gostar de gente! E até hoje confirmo e sei que todos nós temos uma história alegre ou triste para contar! Como a de Lenita!
Por: Tânia de Oliveira
Ela entrava na sala de aula sempre alcoolizada. Sentava no final da sala... Quietinha, e da História da Filosofia só ouvia até Sócrates. Ela dormia. A partir dos pós-socráticos, o mundo dos sonhos ganhava de mim. A turma “zoava”, mas eu pedia que a deixassem em paz! Mas antes que o ano terminasse, Lenita sumira.
Um belo dia fui ao Centro trocar uma panela de micro-ondas que havia comprado e faltara a mídia de Instruções e Receitas. Levaram-me até a “encarregada”. Quando a moça me atendeu, olhou-me fundo e foi dizendo: - Professora, lembra de mim? A voz, a expressão levou minha memória num tempo distante, mas não chegou. A presença ficou no ensaio. Ela adiantou: - Por Favor, me deixe te abraçar! Você foi uma pessoa de grande importância em minha vida. Sou a sua aluna Lenita que te dava trabalho por causa do álcool. Minha vida mudou quando a senhora Professora desenvolveu um projeto na sala de aula - “A Difícil Vida da Mulher Fácil”.
Lembrei quanto ela me surpreendeu na época. Dedicou-se de corpo e alma ao Projeto.Depois sumiu. Não sabia que havia história triste com final feliz, por trás!
Continuou: - Professora lembra que a senhora apresentou o Projeto dizendo que, por trás de toda prostituta, quase sempre tem uma história triste pra contar? Sabe professora, acho que não foi coincidência o fato de que mesmo embriagada, eu não perdia uma aula sua. Você foi usada por Deus pra me trazer aquele Projeto. É que sou filha de uma Prostituta, cotinuou ela. Essa era a razão de meu alcoolismo. Desde treze anos de idade que ao saber o que minha mãe fazia pra me manter, deixei de falar com ela. No entanto, naquele mesmo dia ao chegar em casa, pedi: - Mãe me conta tua história! E ouvi comovida a história triste dela.
Minha mãe, surpresa, foi logo desabafando:- Oh minha filha, que bom que você voltou a falar comigo. Minha vida é uma história triste. Tudo mudou desde que meu pai morrera. Mamãe casou novamente e meu padrasto entre mentiras e sedução fez minha mãe me ver como rival. Da expulsão de casa para a prostituição foi um passo. Sempre fui mulherão e os homens pagavam bem por isso. Comecei dançando, depois vendi minha virgindade para um velhote rico. Depois disso minha vida virou um lixo... Nunca tive carinho ou proteção de quem quer que seja. Até o dia que engravidei de você. Tomei um pacote inteiro de café, e não abortei. Ah, mas quando descobri que você era uma menina, fiquei satisfeita e jurei que iria lhe dar amor e tudo que não tive nessa minha vida. Veja que até aquela vizinha invejosa dizer a você de minha profissão, nós vivíamos num céu. Eu e você. Infelizmente você me rejeitou... Deixou de falar comigo. Voltei a ficar triste, infeliz. Você, minha filha, foi a única coisa boa que a vida me deu!
Ela continuou:- Sabe Professora... Fiquei tão envergonhada de minha covardia. Minha mãe sempre tão amorosa, tão sofrida e eu a rejeitei. Consegui passar anos sem falar com ela. Ela sempre tão delicada comigo. Acho que era por isso que eu bebia. O muro do preconceito me distanciara dela. Consegui vê-la e naquele momento disse pra ela: - A partir de hoje vou cuidar de você mãezinha. Deixei o Liceu, pedi um emprego chorando e explicando meu caso para o gerente de uma loja no comércio, que me empregou. Hoje estou noiva, Professora. Tenho um apartamento no Zé Tenório, minha mãe é respeitada e eu sou feliz... E um tanto disso devo a você!
Naquele momento nos abraçamos em silêncio e nos despedimos. Voltei pra casa mais leve e com mais vontade de ensinar. De aprender mais com a vida para aprender a melhor ensinar. A ser gente e a gostar de gente! E até hoje confirmo e sei que todos nós temos uma história alegre ou triste para contar! Como a de Lenita!