CRÔNICA – Adeus Mestre Ariano – 27.07.2014
CRÔNICA – Adeus Mestre Ariano – 27.07.2014
Quisera ter o dom da escrita para fazer uma crônica à altura do que foi e continua sendo para nós e para o mundo da cultura, esse ícone da literatura brasileira, que nos deixou em 23 do corrente, tomando o destino dos Céus, aonde vai viver perto de Nosso Senhor. Entretanto, atendendo ao chamado da escritora Anna Lúcia Gadelha, paraibana daqui do Recanto das Letras, tentarei fazê-lo.
Esse cidadão simples, de quase dois metros de altura, singelo, jeito de matuto, nascera em Nossa Senhora das Neves, depois João Pessoa, capital do estado da Paraíba, nos idos de 16.06.1927, todavia teve grande parte de sua existência vivida aqui em Recife, onde estudou, formando-se em Direito, profissão exercida por pouco tempo, porquanto a sua vocação mesmo era a de não ficar amarrado a essa atividade.
Filho de João Suassuna e Cássia Vilar, ele governador do Estado, cargo que deixou em 1928, quando resolveu ir morar no Sertão, na fazenda Acauã, cidade de Aparecida da Paraíba, na microrregião de Sousa, levando toda a sua família a tiracolo. Aliás, seu pai foi assassinado pouco tempo depois no Rio de Janeiro, por motivos políticos, na revolução de 1930, pela qual não pretendemos nos enveredar, todavia vale dizer que com o passamento do doutor João, o nosso Ariano foi morar com seus familiares no município de Taperoá, no período de 1933 a 1937, também no sertão daquele vizinho estado. Aliás, essa cidade eu tive a felicidade de conhecer por volta de 1974, quando da inauguração de uma agência do Banco do Brasil, que foi uma festança maravilhosa, à frente o diretor daquela casa de crédito, doutor José Aristóphanes Pereira, homem de alta capacidade de decisão, nascido naquela região.
A propósito, o assassinato de João Suassuna, três anos depois, já fora do governo, ocorreu durante as tensões políticas que se seguiram ao assassinato de seu sucessor João Pessoa, em três de outubro. “O crime, passional, foi usado como estopim político para deflagrar a revolução que levaria Getúlio Vargas ao poder. Por boatos de seu suposto envolvimento na morte de João Pessoa, João Suassuna, de uma facção política oposta à de João Pessoa, foi assassinado no dia 9 de outubro de 1930, no Rio”.
Sobre a família Suassuna penso que há raízes dela lá pras bandas de Catolé do Rocha e Riacho dos Cavalos, ambos no alto sertão paraibano, porquanto conheci várias unidades familiares com esse sobrenome, como por exemplo, o Américo Suassuna, grande proprietário de terras, onde plantava algodão, milho, feijão e mandioca, e criava gado misto para produção de carne e leite, muito embora essas cidades ficassem encravadas em terreno árido, por falta de chuvas, o calcanhar de Aquiles do nordeste brasileiro.
Seus primeiros estudos foram feitos na referida cidade de Taperoá, todavia, em 1942/45, já em Recife, continuou a estudar, tendo concluído o curso secundário passando por três estabelecimentos, quais sejam Ginásio Pernambucano, Colégio Americano Batista e Colégio Oswaldo Cruz, todos de excelente categoria. Daí para a faculdade foi um pulo, e em 1947, juntamente com o escritor Hermilo Borba Filho, fundou o Teatro do Estudante de Pernambuco, eis que já havia descoberto seu dom para essa atividade cultural, tanto que em 1947 escreveu a sua primeira obra “Uma Mulher Vestida de Sol”, e logo depois, em 1948, mais uma, desta feita “Cantam as Harpas de Sião”, montadas pelo mesmo teatro. Também escreveu “Os Homens de Barro”, exibida no ano seguinte. Todas com absoluto sucesso.
A sua formatura em Direito se deu no ano de 1950, oportunidade em que foi contemplado com o Prêmio Martins Pena, mas viu-se obrigado a se mudar para a cidade de Taperoá, a fim de se tratar de doença pulmonar (tuberculose), que àquela época grassava entre nós brasileiros, e andou sendo a “causa mortis” de grande parte do povo nacional. Independentemente da doença, prosseguiu escrevendo, de vez que essa era a sua vocação. Tanto que no interior produziu as peças de teatro “Torturas de um Coração”, em 1951, para logo depois, no ano seguinte, retornar a residir em Recife. “O Auto da Compadecida”, de sua lavra, foi considerado como o texto mais popular do moderno teatro brasileiro.
O Ariano Vilar Suassuna, seu nome completo, foi escritor, poeta, ensaísta e dramaturgo afamado, com mais de vinte livros publicados, praticamente todos de sucesso nacional e até ultrapassando fronteiras. Sua vida era como a de um pássaro, talvez sob a influência da fazenda Acauã, onde morou, flutuando em vários setores e atividades, com ênfase para as letras, tanto que abandonou de vez a profissão de advogado, em 1956, quando se tornou professor de Estética na Universidade Federal de Pernambuco.
Nos anos seguintes foram encenadas várias de suas peças, tais como “O Casamento Suspeitoso”, e o “Santo e a Porca”, em São Paulo, pela grande companhia Sérgio Cardoso; depois, vieram “O Homem da Vaca” e o “Poder da Fortuna”; “A Pena e a Lei”, esta em 1959, sendo que dez anos depois ela foi premiada no Festival Latino-Americano de Teatro.
“Em 1959, funda, com o romancista e dramaturgo Hermilo Borba Filho, o Teatro Popular do Nordeste, embrião do que viria a ser, em 1970, o Movimento Armorial, também capitaneado por ele. A proposta estética do Movimento Armorial era a de revisitar símbolos, sons, manifestações artísticas apropriados pela cultura popular brasileira, mas que remontam à cultura barroca ibérica. O objetivo era criar uma forma de arte erudita baseada nas raízes populares da cultura brasileira”.
Não se queira aqui escrever sobre essas obras todas desse grande homem paraibano de nascimento, pernambucano por adoção, e brasileiro pelo que deixou escrito para todos nós, porquanto seria humanamente impossível, embora tenhamos a nossa disposição o excepcional site do GOOGLE, que registra tudo a tempo e hora. Mas lembrar de que fazia parte das Academia Paraibana e Pernambucana de Letras, assim como da Academia Brasileira de Letras, na cadeira nº 32, cujo patrono é o Manoel José de Araújo Porto Alegre, o Barão de Santo Ângelo, é assunto que não se pode olvidar de forma alguma.
Foi premiado dezenas de vezes por seus trabalhos em diversas associações, câmara de vereadores, assembleias legislativas, órgãos federais, inclusive universidades. Mas todas essas homenagens ainda eram poucas para o seu merecimento, culminando com a mais efusiva delas, que foi a de ir morar na casa de Deus, nosso Pai.
Ariano Suassuna deixa a esposa, Zélia, 6 filhos e 13 netos.
Eu fui buscar no trabalho excelente da escritora Rebeca Cabral, embutido no Google, com a qual não tive chance de me comunicar, um resumo daquela que para mim foi a mais primorosa obra desse grande personagem de nossa história cultural, que vai transcrito abaixo, “ipsis litteris”:
Esse cidadão simples, de quase dois metros de altura, singelo, jeito de matuto, nascera em Nossa Senhora das Neves, depois João Pessoa, capital do estado da Paraíba, nos idos de 16.06.1927, todavia teve grande parte de sua existência vivida aqui em Recife, onde estudou, formando-se em Direito, profissão exercida por pouco tempo, porquanto a sua vocação mesmo era a de não ficar amarrado a essa atividade.
Filho de João Suassuna e Cássia Vilar, ele governador do Estado, cargo que deixou em 1928, quando resolveu ir morar no Sertão, na fazenda Acauã, cidade de Aparecida da Paraíba, na microrregião de Sousa, levando toda a sua família a tiracolo. Aliás, seu pai foi assassinado pouco tempo depois no Rio de Janeiro, por motivos políticos, na revolução de 1930, pela qual não pretendemos nos enveredar, todavia vale dizer que com o passamento do doutor João, o nosso Ariano foi morar com seus familiares no município de Taperoá, no período de 1933 a 1937, também no sertão daquele vizinho estado. Aliás, essa cidade eu tive a felicidade de conhecer por volta de 1974, quando da inauguração de uma agência do Banco do Brasil, que foi uma festança maravilhosa, à frente o diretor daquela casa de crédito, doutor José Aristóphanes Pereira, homem de alta capacidade de decisão, nascido naquela região.
A propósito, o assassinato de João Suassuna, três anos depois, já fora do governo, ocorreu durante as tensões políticas que se seguiram ao assassinato de seu sucessor João Pessoa, em três de outubro. “O crime, passional, foi usado como estopim político para deflagrar a revolução que levaria Getúlio Vargas ao poder. Por boatos de seu suposto envolvimento na morte de João Pessoa, João Suassuna, de uma facção política oposta à de João Pessoa, foi assassinado no dia 9 de outubro de 1930, no Rio”.
Sobre a família Suassuna penso que há raízes dela lá pras bandas de Catolé do Rocha e Riacho dos Cavalos, ambos no alto sertão paraibano, porquanto conheci várias unidades familiares com esse sobrenome, como por exemplo, o Américo Suassuna, grande proprietário de terras, onde plantava algodão, milho, feijão e mandioca, e criava gado misto para produção de carne e leite, muito embora essas cidades ficassem encravadas em terreno árido, por falta de chuvas, o calcanhar de Aquiles do nordeste brasileiro.
Seus primeiros estudos foram feitos na referida cidade de Taperoá, todavia, em 1942/45, já em Recife, continuou a estudar, tendo concluído o curso secundário passando por três estabelecimentos, quais sejam Ginásio Pernambucano, Colégio Americano Batista e Colégio Oswaldo Cruz, todos de excelente categoria. Daí para a faculdade foi um pulo, e em 1947, juntamente com o escritor Hermilo Borba Filho, fundou o Teatro do Estudante de Pernambuco, eis que já havia descoberto seu dom para essa atividade cultural, tanto que em 1947 escreveu a sua primeira obra “Uma Mulher Vestida de Sol”, e logo depois, em 1948, mais uma, desta feita “Cantam as Harpas de Sião”, montadas pelo mesmo teatro. Também escreveu “Os Homens de Barro”, exibida no ano seguinte. Todas com absoluto sucesso.
A sua formatura em Direito se deu no ano de 1950, oportunidade em que foi contemplado com o Prêmio Martins Pena, mas viu-se obrigado a se mudar para a cidade de Taperoá, a fim de se tratar de doença pulmonar (tuberculose), que àquela época grassava entre nós brasileiros, e andou sendo a “causa mortis” de grande parte do povo nacional. Independentemente da doença, prosseguiu escrevendo, de vez que essa era a sua vocação. Tanto que no interior produziu as peças de teatro “Torturas de um Coração”, em 1951, para logo depois, no ano seguinte, retornar a residir em Recife. “O Auto da Compadecida”, de sua lavra, foi considerado como o texto mais popular do moderno teatro brasileiro.
O Ariano Vilar Suassuna, seu nome completo, foi escritor, poeta, ensaísta e dramaturgo afamado, com mais de vinte livros publicados, praticamente todos de sucesso nacional e até ultrapassando fronteiras. Sua vida era como a de um pássaro, talvez sob a influência da fazenda Acauã, onde morou, flutuando em vários setores e atividades, com ênfase para as letras, tanto que abandonou de vez a profissão de advogado, em 1956, quando se tornou professor de Estética na Universidade Federal de Pernambuco.
Nos anos seguintes foram encenadas várias de suas peças, tais como “O Casamento Suspeitoso”, e o “Santo e a Porca”, em São Paulo, pela grande companhia Sérgio Cardoso; depois, vieram “O Homem da Vaca” e o “Poder da Fortuna”; “A Pena e a Lei”, esta em 1959, sendo que dez anos depois ela foi premiada no Festival Latino-Americano de Teatro.
“Em 1959, funda, com o romancista e dramaturgo Hermilo Borba Filho, o Teatro Popular do Nordeste, embrião do que viria a ser, em 1970, o Movimento Armorial, também capitaneado por ele. A proposta estética do Movimento Armorial era a de revisitar símbolos, sons, manifestações artísticas apropriados pela cultura popular brasileira, mas que remontam à cultura barroca ibérica. O objetivo era criar uma forma de arte erudita baseada nas raízes populares da cultura brasileira”.
Não se queira aqui escrever sobre essas obras todas desse grande homem paraibano de nascimento, pernambucano por adoção, e brasileiro pelo que deixou escrito para todos nós, porquanto seria humanamente impossível, embora tenhamos a nossa disposição o excepcional site do GOOGLE, que registra tudo a tempo e hora. Mas lembrar de que fazia parte das Academia Paraibana e Pernambucana de Letras, assim como da Academia Brasileira de Letras, na cadeira nº 32, cujo patrono é o Manoel José de Araújo Porto Alegre, o Barão de Santo Ângelo, é assunto que não se pode olvidar de forma alguma.
Foi premiado dezenas de vezes por seus trabalhos em diversas associações, câmara de vereadores, assembleias legislativas, órgãos federais, inclusive universidades. Mas todas essas homenagens ainda eram poucas para o seu merecimento, culminando com a mais efusiva delas, que foi a de ir morar na casa de Deus, nosso Pai.
Ariano Suassuna deixa a esposa, Zélia, 6 filhos e 13 netos.
Eu fui buscar no trabalho excelente da escritora Rebeca Cabral, embutido no Google, com a qual não tive chance de me comunicar, um resumo daquela que para mim foi a mais primorosa obra desse grande personagem de nossa história cultural, que vai transcrito abaixo, “ipsis litteris”:
“O Auto da Compadecida”
“João Grilo e Chicó arrumam um emprego com o padeiro da cidade. O cachorro da mulher do padeiro fica doente, João Grilo e Chicó vão à igreja para pedir ao padre que benzesse Xáreu. Mas o padre não concordou, João então disse que o cachorro era de Antônio Morais, um homem poderoso. Ao ouvir isso o padre aceitou benzer".
"Quando iam saindo da igreja Chicó e João Grilo viram Antônio Morais indo para igreja. João se aproximou e avisou que o padre estava ficando louco chamando a todos de cachorro, para que ele não reparasse. Quando Antônio entrou na igreja logo o padre veio recebê-lo, como ele queria que a filha dele fosse benzida, não houve confusão no início da conversa até que o padre referiu-se a cachorros e assim ofendeu a Antônio, que disse que iria falar com o bispo sobre a grosseria do padre”.
“Assim que ele saiu chegou na igreja o padeiro e sua mulher, João Grilo e Chicó. Xáreu acabava de morrer e a mulher queria que o cachorro fosse enterrado em latim. O padre e o sacristão não concordaram, mas João que podia agir como quisesse para conseguir o enterro, logo inventou que o cachorro era cristão e em troco do enterro deixava dez contos de réis para o padre e três para o sacristão. E assim o enterro foi feito”.
“Quando voltaram à igreja o bispo estava lá e já sabia das reclamações contra o padre. Ao saber do enterro condenou a ação como um sacrilégio, mas João logo disse que o animal tinha deixado três contos de réis para o sacristão, quatro para o padre e seis para o bispo e assim todos concordaram com o enterro”.
“Foi então que a mulher chegou trazendo o dinheiro para que João o entregasse ao pessoal. Quando ela estava indo embora J. Grilo lhe ofereceu um gato que “descomia” dinheiro. A mulher ficou animada e comprou o gato, mas logo que foi embora voltou como marido, pois já tinha arrancado do gato todo o dinheiro que Chicó tinha enfiado no pobre animal”.
“Nesse momento entrou na igreja Severino e seu capanga. Ele tomou todo o dinheiro e matou o bispo, o padre, o sacristão, o padeiro e sua mulher. Quando chegava a vez de João ele ofereceu a Severino uma gaita que ressuscitavaaspessoas”.
“Para demonstrar a eficiência da gaita, João deu uma facada em Chicó e lhe furou uma bexiga de bode cheia de sangue que um tempo atrás Chicó havia pendurando em si por baixo da blusa. Logo depois começou a tocar a gaita e Chicó fez que havia ressuscitado”.
“Em troca da gaita queriam a libertação. Mas Severino estava indeciso, então João falou que ele poderia ir ver seu padrinho Padre Cícero, assim o capanga de Severino lhe dá um tiro e em seguida tocou a gaita e obviamente o cangaceiro não voltou à vida. O capanga tentou matar João e assim os três começaram uma luta e João Grilo acabou por enviar uma facanohomem”.
“Chicó correu pra fora da igreja, João ainda foi até Severino e pegou o dinheiro do enterro e o da padaria. O capanga que ainda não havia morrido, pegou o rifle e em seu último minuto deu um tiro em J. Grilo”.
“Aparecem então todos no céu. Era a hora do Juízo Final. Apareceram o diabo e Jesus, e deu-se início ao julgamento, o diabo acusou a todos e Jesus viu que aquele era um caso difícil. João então chamou Nossa Senhora, mãe de Jesus, para interceder por eles. Foi o que ela fez. O padre, o bispo, o sacristão, o padeiro e sua mulher foram todos para o purgatório. Severino e o seu capanga foram absolvidos e foram para o paraíso. João simplesmente retornou a seu corpo, pois lhe foi dada uma segundachance”.
“Quando acordou viu Chicó e um palhaço o enterrando, quando ele levantou o palhaço saiu correndo e Chicó, de tanto medo, nem conseguiu correr. Depois de uma pequena confusão João conseguiu fazer seu amigo acreditar que ele estava vivo. Os dois então se animaram, afinal estavam ricos com o dinheiro do enterro e da padaria, que o cangaceiro havia roubado”.
“Mas Chicó lembrou que prometeu a Nossa Senhora que se João escapasse dessa lhe daria todo o dinheiro. Assim os dois começaram a discutir sobre a promessa. Por fim os dois acabaram indo pagar a promessa e entregaram todo o dinheiro a Nossa Senhora”.
Fontes: Conhecimentos pessoais, internet/Google e Rebeca Cabral.