"AO MESTRE" ARIANO SUASSUNA, "COM CARINHO" (NÃO SEI, SÓ SEI QUE FOI ASSIM CHICÓ

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Usando um óculos redondo ao estilo Jonh Lennon, de 0,5 graus de miopia, com meus 17 anos de juventude e rebeldia depositadas no bolso esquerdo da calça e uma pequena caderneta que foi companheira constante rumava para o Teatro Amazonas, entrava pela porta dos fundos, cumprimentava o seu diretor Álvaro Pascoa, encontrava o teatrólogo Álvaro Braga, com sua bolsa de couro ao lado e com dificuldades de andar por vários problemas de saúde, cumprimentava o coreografo Carlos Aguiar e iniciava os exercícios de respiração e laboratório à lá Bertolt Brecht. Dramaturgo, poeta, encenador alemão do século XX para encarnar a personagem “João Grilo”, da peça o Auto da Compadecida, do mestre Ariano Suassuna, que faleceu no dia 23.07.14.

Mesmo não o tendo conhecido pessoalmente e nem ao gênio criador de uma cultura nordestina, tínhamos o mesmo pensamento: fazer de João Grilo um personagem alegre, engraçado, irreverente, despojado de vaidades, vivendo um pouco a cada dia. Contudo, devido à falta de pauta para a apresentação no templo da cultura e da arte no Amazonas, a magistral peça teatral irreverente, filosófica, satírica, enfim completa do advogado Ariano Suassuna, “O Auto da Compadecida”, ao mesmo tempo divertida e alegórica expondo de forma genial e magnífica a ganância existente dentro da Igreja Católica, transpondo tudo para o sertão nordestino., nunca chegou a ser encenada e nunca me tornei um ator, que talvez tivesse sido medíocre, ao contrário do excepcional ator de monólogo David Almeida, para quem escrevi o monólogo que transformei em livro O HOMEM DA ROSA. Cada frase, cada cena que escrevia era pensando em vê-lo pronunciando-as no Palco do Teatro Amazonas e eu, sentado na primeira fila de poltronas, para aplaudi-lo no final. Mas isso não ocorreu também, mas espero continuar vivendo até o dia que isso possa ocorrer, porque o livro terá que ser adaptado para monólogo. Não será difícil, mas é meu sonho, ainda não realizado!

Hoje, o idealizador e criador do Movimento Armorial, defensor da cultura do Nordeste no Brasil, ex-Secretário de Cultura de Pernambuco de 1994 a 1998 e Secretário de Assessoria do governador Eduardo Campos, até abril de 2014, partiu da vida e entrou na história, nos deixando, entre outras obras de igual importância, os romances “O Romance d´A Pedra do Reino” e o “Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta”. Ariano se foi, mas as ideias ficarão, os seus livros permanecerão sendo estudados, as suas aulas alegres e divertidas, profundas e filosóficas que ministrava farão falta aos que lhe ouviam com atenção e carinho! Mas não fui o personagem “Chicó” de sua peça e não terei mais como sê-lo!

E sabem como foi a morte de Ariano Suassuna? Não sei! Só sei que ele nos deixou um vasto trabalho em diversas áreas e que partiu com a mesma irreverência que viveu! Faleceu depois de ver completada sua vida e deixando para a história pérolas como as peças teatrais “O Castigo da Soberta”, de 1953, “O Rico Avarento”, de 1954 e o “Auto da Compadecida”, de 1955. Em 1948, havia escrito a peça “Cantam as Harpas de Sião (ou O Desertor da Princesa), encenada no Teatro do Estudante de Pernambucos, que montou logo depois a peça Homens de Barro, de sua autoria. “Não sei, só sei que foi assim, Chicó”!

Talvez tenha ido se encontrar com Nossa Senhora, talvez tenha ido ver o Deus Negro que pensara em sua peça mais famosa! “Não sei, só sei como foi assim, Chicó”! “Ó cabra que faz tantas perguntas!”. Já disse que não sei! Só sei que ele partiu, Chicó! Querido Ariano Suassuna, aproveito essa crônica para agradecer-lhe porque se eu tivesse encenado o seu personagem João Grilo no teatro, talvez eu não tivesse me tornando um cronista persistente e chato que, como você também fazia em sua vida, escreve todos os dias para ocupar o tempo, o que talvez não fosse seu caso, porque você era muito famoso, ocupado e fazia palestras em faculdades!

“Não sei como foi, só sei que foi assim, Chicó”, que consegui escrever essa crônica medíocre para reverenciar um gênio da cultura nordestina. Saiba: muitos vão querer imitá-lo, mas nunca ninguém o alcançará e nem será tão genial, irreverente como você foi, meu Ariano Suassuna! Vá em paz e que Deus lhe acompanhe em sua nova morada e lhe receba de braços abertos, como ficaram na terra os homens que o admiravam.

A caderneta que carregava e na qual escrevia permanecera comigo em segredo até o dia em que o escritor Danilo Du Silvan, também promotor de justiça da 7a Vara Criminal, entrou em A NOTÍCIA, onde eu trabalhava como “foca” e pediu-me para lê-la. Fiquei com medo porque não o conhecia direito e pensei tratar-se de um agente da repressão e na caderneta estavam anotados desabafos políticos. O entreguei com medo e 6 meses depois voltou ao jornal dizendo que eu era o mais novo e jovem poeta de Manaus e me entregou um pacote. Dentro dele, estava meu primeiro livro de poesias (DES)Construção, em 1978, devido a um poema que ele lera e gostara. Danilo produzira a Capa com recortes de jornais em forma de prédios desmoronando, fez a apresentação, marcou data do lançamento e custeou tudo. Fez-me na marra um poeta!

Como tudo isso aconteceu? “Não sei Chicó, só sei que foi assim!!

carlos da costa
Enviado por carlos da costa em 26/07/2014
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