As bolsinhas das vovós

Minha mãe adorava uma “bolsinha”. Carregava-a sempre, como se fosse o seu amuleto. Muitas vezes eu costumava passear com ela prá mostrar como a cidade estava crescendo e lá vinha ela com a bolsinha. Eu dizia: “mãe, prá quê levar a bolsa?”. Respondia: “posso precisar de alguma coisa”.

Como precisar de alguma coisa, se na bolsinha (que era trocada com muita frequência, pois o estoque era grande) só tinha meia dúzia de coisas?

Na semana passada tive que levar minha sogra no hospital. Com dor, mas sem perder o humor, carregava consigo também uma bolsinha e uma pasta de exames. Para facilitá-la, tirei as duas das suas mãos.

A bolsinha era preta, pequena, somente com um fecho, muito parecida com a preferida da minha mãe. A saudade bateu, ou ficou maior, ou doeu ... eu não sei.

Dentro dela, como se fosse a mesma bolsa, uma carteira pequena com dinheiro (sim, minha mãe nunca saia sem dinheiro), cartão do banco, identidade e CIC. Subitamente ela falou: esquecí o lenço. O mesmo lenço que minha mãe costumava deixar na bolsinha, lenço cúmplice de uma medalhinha de Santa Rita de Cássia, um terço e uma tesourinha dobrável.

À espera do atendimento, em silêncio mas com a cabeça à mil, pensei: com esses sinais o meu coração faz um barulho ensurdecedor.

Rosalva
Enviado por Rosalva em 25/07/2014
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