As companhias de danças e aeróbicas, mais conhecidas por Academias de Performances e Preparação Física, combinaram de patrocinar um evento de interação entre seus membros usuários.
O acontecimento foi em um restaurante dançante da cidade que é dividido em partes. A superior ficou reservada para clientes peculiares e a de baixo para o evento dançante e bar.
O evento teria sido chamado de “baile” em outros tempos; na pós-modernidade aproximava-se mais de uma “balada” sem extravagâncias.
Na pista de dança, que fora alargada com a remoção de mesas, casais inicialmente ensaiavam, demonstravam, exibiam seus passos antes da motivação maior: Uma Quadrilha Julina! Trajes típicos alguns usavam, enquanto a maioria preferiu, traindo assim o combinado, de vestirem roupas festivo-sociais – algumas damas optaram por indumentárias esvoaçantes para quando rodopiassem nas contradanças parecessem aéreas. Muitos se assemelhavam a atores de grande ópera tal era a artificialidade das caras, bocas, trejeitos e coreografia dos passos causando timidez a quem era só acostumado com “dois prá lá e dois prá cá” e foram como meros convidados.
O cronista, um louco e tanto perdido entre passos rígidos de companhia pré-moderna e de axés e zumbas pós-modernas, tentou bailar. Ou a dama era rígida como poste invejando movimentos de copas de árvores, ou ensaiada demais nos compassos pré-estudados, ou só tinha a intenção de dançar simples movimentos. Ou isto ou aquilo: ele era louco mesmo, atrevido, aparecido e sem senso de ridículo.
Entre esperas e ensaios, eis que da escadaria que acessava o restaurante onde ceavam convivas assíduos desceu um casal que desentoava dos dançantes da parte inferior onde aconteciam as danças. Ele se trajava formalmente, quase um terno, e muito senhorial. Amparava sua dama com passos de rainha sem corte. Vestia-se toda negra e felpuda como requeria a temperatura daquela noite pra quem fora apenas cear e conversar à mesa. A negritude da roupa ressaltava a alvura da pele daquela senhora e a seus cachos da cabeleira natural e a artificial: exagero de cachos loiros e fivelas que pesavam a cabeça.
Quando aquele casal ímpar chegou à pista de dança, ele abria alas entre os dançantes em direção ao toalete para ela passar. E assim iam e vinham diversas vezes – escada acima e escada abaixo - atrapalhando os movimentos da peça musical do piso inferior.
A hora adiantou-se com toda aquela festividade e seu ócio.
De repente, tantas da madrugada a “Quadrilha Julina” começou.
A dama sem par convocou o cronista. Este que já havia experimentado o passo e o compasso da distinta e rija mulher preferiu o repasso de sua vez a ter que molejar aquela cansativa resistência toda. Ele podia se dar ao capricho da recusa, pois o que não faltava eram mulheres à espera de um encantado cavalheiro. Mas o cronista, cansado de ceder sua cavalherice viu que era hora mesmo de se retirar.
Havia dançado e conversado, visto e revisto conhecidos e amigos. Bastava já!
Aprendera que na vida solidão é solidez. A tudo cabe ao humano se adaptar e acomodar seus medos e esperanças, neuroses e felicidades, horas e acasos.
O ocaso se fez e ele preferiu sair à francesa sem alardes ou alaridos de despedidas tupiniquins – por mais que pareça não vai aqui nenhum preconceito ou frescor ou rudeza; apenas modo de ser e sair de cena.
Leonardo Lisbôa,
Barbacena, 25/07/2014.