Cara Abusado!!
Se a sorte sorrir pra você, sorria de volta.
A sorte não tolera desaforo.
Augusto Branco
Precisava passar num farmácia, numa das entrequadras de Brasília.
Para quem não conhece, o moderníssimo projeto urbano da capital previu uma média de doze vagas por prédio que, além das lojas do térreo, têm sobreloja, primeiro andar e subsolo, onde se amontoam escritórios e apartamentinhos. Talvez, na década de setenta, esta conta fechasse. Hoje, com uma frota de mais de milhão e meio de automóveis circulando no quadradinho do Planalto Central, não precisa ser matemático pra saber que tem muitos mais noves fora do que cabem em doze vagas por prédio. Talvez, se a convenção de condomínio determinar o limite de apenas um carro por imóvel, o estacionamento seja suficiente. Desde que ninguém receba visitas ou clientes. Perfeito! Pra quê estabelecimentos comerciais precisam receber visitas ou clientes?
Nesse dia, contrariando toda a lógica, havia visitantes e clientes perambulando pelo comércio e, curiosamente, não havia uma vaga sequer no estacionamento. Por sorte, vi uma mulher encaminhando-se para um dos carros, encostei o meu logo atrás dela e liguei a seta. Ela levou uns três dias, quatorze horas, dezessete minutos e cinquenta e três segundos para conseguir engatar a ré e desocupar a "minha" vaga. E eu, ali, esperando.
Quando, finalmente ela saiu, antes que eu pudesse engatar a primeira, um carro veio da faixa central e, deslizou, vaselinado, para dentro. Eu não podia acreditar. A única imagem que me vinha à cabeça era a cena em que a senhora Couch, em Tomates Verdes Fritos, grita "Towaaaaaanda", enquanto joga seu carro violentamente contra o de uma outra mulher que fez a mesma coisa no filme. Controlando-me, eu apenas buzino. Furiosamente, é verdade, mas só buzino. Felizmente, antes que eu engate a ré para dar a distância necessária ao impacto Towanda, o bicudo levanta a bandeirinha branca e sai da vaga, indo parar um pouquinho mais à frente, em fila dupla.
Estaciono e desembarco rapidamente, quase ao mesmo tempo que o motorista do outro carro. Lanço-lhe meu melhor olhar de "humpf!", justamente a tempo de reconhecer nele, ninguém menos que... meu chefe.
Sorte, né? Imagina se ele não tivesse saído.
Texto publicado no jornal Alô Brasília de 25/07/2014, reeditado do texto homônimo, publicado neste Recanto das Letras em 13/04/2008.
Para quem não conhece, o moderníssimo projeto urbano da capital previu uma média de doze vagas por prédio que, além das lojas do térreo, têm sobreloja, primeiro andar e subsolo, onde se amontoam escritórios e apartamentinhos. Talvez, na década de setenta, esta conta fechasse. Hoje, com uma frota de mais de milhão e meio de automóveis circulando no quadradinho do Planalto Central, não precisa ser matemático pra saber que tem muitos mais noves fora do que cabem em doze vagas por prédio. Talvez, se a convenção de condomínio determinar o limite de apenas um carro por imóvel, o estacionamento seja suficiente. Desde que ninguém receba visitas ou clientes. Perfeito! Pra quê estabelecimentos comerciais precisam receber visitas ou clientes?
Nesse dia, contrariando toda a lógica, havia visitantes e clientes perambulando pelo comércio e, curiosamente, não havia uma vaga sequer no estacionamento. Por sorte, vi uma mulher encaminhando-se para um dos carros, encostei o meu logo atrás dela e liguei a seta. Ela levou uns três dias, quatorze horas, dezessete minutos e cinquenta e três segundos para conseguir engatar a ré e desocupar a "minha" vaga. E eu, ali, esperando.
Quando, finalmente ela saiu, antes que eu pudesse engatar a primeira, um carro veio da faixa central e, deslizou, vaselinado, para dentro. Eu não podia acreditar. A única imagem que me vinha à cabeça era a cena em que a senhora Couch, em Tomates Verdes Fritos, grita "Towaaaaaanda", enquanto joga seu carro violentamente contra o de uma outra mulher que fez a mesma coisa no filme. Controlando-me, eu apenas buzino. Furiosamente, é verdade, mas só buzino. Felizmente, antes que eu engate a ré para dar a distância necessária ao impacto Towanda, o bicudo levanta a bandeirinha branca e sai da vaga, indo parar um pouquinho mais à frente, em fila dupla.
Estaciono e desembarco rapidamente, quase ao mesmo tempo que o motorista do outro carro. Lanço-lhe meu melhor olhar de "humpf!", justamente a tempo de reconhecer nele, ninguém menos que... meu chefe.
Sorte, né? Imagina se ele não tivesse saído.
Texto publicado no jornal Alô Brasília de 25/07/2014, reeditado do texto homônimo, publicado neste Recanto das Letras em 13/04/2008.