NO MEU PRIMEIRO LAR
Eu não trago nenhum ranço de revolta do ambiente que me criei. Ali na casa do meu avô tive boas companhias, tive bons exemplos das minhas três tias maravilhosas e honestas. Aos dez anos eu já lia muito seguindo exemplos da tia Marica que sempre lia para eu ouvir. À casa do meu avô foi um lar de cultura, um lar habitado por gente sincera e decente. Na estante do nosso lar tinha os melhores livros e bons autores, como Eça de Queiroz, Ramalho Urtigão, Joaquim Cesário Verde, Antero de Quental, machado de Assis, Victor Hugo, Gustavo Flaubert e muitos outros escritores brasileiros. Foi neste acervo cultural que formei a minha índole literária. A tia Ana Rosa gostava de ouvir eu lendo os bons livros e me entretendo com o mundo literário sem seguir o caminho errado da vida. Foi neste lar pobre de dinheiro e rico de amor que nasceu em mim a grande paixão pela literatura. Tia Josefa era amiga da igreja e pouco ligava para a cultura e para o conhecimento humano. Ela não tinha a perspicácia da tia Marica que era adestrada nos livros no conhecimento cultural e na admiração das coisas do espírito. Cresci neste ambiente restrito e ao mesmo tempo rico de idéias prazerosas na cultura e no exemplo do saber humano. Sonho ainda com o meu passado alegre com o tempo que eu aprendia de tudo. Mesmo sem o carinho materno tive uma infância boa por fazer aquilo que eu mais gostava de fazer. Aos vinte anos encetei o repente e comecei a tocar viola uma outra faceta da minha vida, contudo nunca abri mão do meu primeiro gosto: a leitura. Muitos poetas não tiveram o meio letrado como eu tive, pois não tiveram o ambiente semelhante ao meu. Por mais que eu cresça culturalmente não posso esquecer o meu princípio o meu lar autentico e o exemplo de minhas três tias e mães adotivas. Ontem eu lendo um texto de Guerra Jungueiro chorei me lembrando da velha casa do meu avô e das minhas três tias que tanto fizeram por mim. Esta saudade levarei comigo até a morte. Quando leio o soneto de Augusto dos Anjos “O Tamarindo” recordo-me de malhadinha das minhas três tias e dos livros que os li debaixo do nosso velho carvalho que havia em frente á casa do meu avô, Agostinho José de Santiago Neto.
Antonio Agostinho