O SAPO

Ela chegou em casa ao entardecer.

Guardou o carro na garagem, abriu a porta da sala e entrou. Deixou a bolsa no sofá e foi para a cozinha. Estava morrendo de sede.

Da geladeira tirou uma vasilha com água gelada, colocou no copo e se dirigiu até a porta da cozinha. Uma longa escada, com mais de dez degraus, conduzia da porta até o quintal.

Sorvia o precioso líquido enquanto, com olhar atento de dona de casa, fiscalizava o terreno.

Tudo normal. Normal até demais!

Lentamente, virou-se para dentro. O mesmo olhar escrutinador vasculhava o seu território familiar. Foi então que deu de cara com ele.

No fundo da peça, em um canto, entre a pia e o armário de guardar louça, um sapo. Bem na esquina, no encontro das duas paredes. Não tinha medo de sapo, portanto, não se desesperara. Se fosse uma barata, ai, então, meu Deus do céu!!

Medo, não, mas nojo, isso ela tinha. E de montão. Aquele bicho nojento. De repente, olhos nos olhos. Um arrepio, um gesto de raiva, como se quisesse esmagar aquele intruso.

Lentamente caminhou em direção à área de serviço, de onde pretendia pegar uma vassoura e expulsar aquele nojento na base da pancada. Desistiu. E se fosse um príncipe encantado, brincou ela. Entraria na pancada do mesmo jeito. Príncipes encantados não existem, concluiu.

Mentalmente, enquanto buscava um meio para exterminar o invasor, questionava a maneira como este sapo entrou em sua casa. E logo na sua cozinha! Da cozinha até o chão do quintal eram mais de dez degraus. Seria aquele bicho um alpinista? Seria ele um escalador de escada? A melhor alternativa era a de que a invasão ocorrera desde a sala. Mas por onde, se a porta permaneceu fechada o dia inteiro. Aliás, a porta da cozinha também estivera fechada o dia inteiro enquanto ela estava trabalhando na cidade. Concluiu que o bicho entrou na noite anterior, enquanto ela punha a roupa suja na máquina de lavar.

Agora não tinha mais jeito. O negócio agora era dar um fim no invasor. Depois de estudar algumas opções, escolheu a água fervida como forma de ataque.

Enquanto a água fervia na chaleira, ela foi até o quarto. Uma distração entre uma roupa e outra para usar no dia seguinte e ouviu-se um apito estridente. A chaleira avisava que a água já estava pronta para ser usada. Na correria, bateu a porta do quarto com tanta força que quebrou a maçaneta. Mas nem se preocupou. Estava presa do lado de fora do quarto, mas esperaria por seu filho. Ele daria um jeito de abrir aquela porta. A sua preocupação neste momento era o sapo.

Derramou a água em um canecão e mirou bem no indivíduo. Carecia de uma boa mira porque se errasse o alvo, corria o risco de molhar a porta do armário. E a madeira do armário não era das boas. Era compensado. E se molhasse, ficaria toda empapuçada. A porta do armário.

Em um golpe de mestre, atingiu o alvo sem derramar uma gota no armário. Viu o bicho espernear, tentar correr e deslizar na imensidão das águas. Às vezes deslizava, às vezes saltitava. Parecia um lago escaldante dentro de sua casa. Aos poucos o infeliz se estrebuchou, deu as últimas patinadas e ficou imóvel. Morreu. Será?

Estava cansada. Precisava de um repouso para enfrentar a batalha do dia seguinte. Era mulher guerreira e precisava trabalhar para manter a vida. Por isso, o descanso lhe era merecido. Mais do que merecido! Um banho, um lanchinho e um sofá. Jornal e a novela, das oito que passava às nove, um cochilo no sofá e cama. Restaurar as forças para o dia seguinte.

E o sapo?

O sapo? Bem, o sapo ficou estiraçado lá no canto.

Amanhã seu filho daria um jeito naquele bicho nojento!

Ainda no sofá, entre um toscanejo e outro, ela sonhou. Sonhou com o sapo. Que ele era um belo príncipe que gritava por socorro enquanto afundava nas lavas ardentes de um vulcão! Mas agora não tinha mais jeito.

O sapo estava estiraçado lá no canto da cozinha.

Será que príncipes encantados não existem, mesmo?

Oh, dó!

Jonas De Antino
Enviado por Jonas De Antino em 24/07/2014
Código do texto: T4894331
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