A cor da dor

Às vezes me pego absorto fazendo contas e mais contas dos devaneios que me cercam. Nessa loucura sempre me perco quando estou lá pela metade dos fatos, que são tantos ou mais que as minhas dores. Cada qual maior, cada qual mais intransigente.

Quando pequeno vivia agarrado aos braços dos meus pais como se eles fossem o meu mundo, a minha casa, o meu pão de cada dia. Não conseguia respirar sem que eles estivessem por perto. Tudo que fazia, esperava a aprovação dos dois que me vigiavam com olhos de lince. Naquela época eu tinha uma cachorra branca e preta que atendia pelo nome de Catita, era uma graça, estava sempre correndo atrás de uma bola. Toda semana tinha que dar um banho na danada. Um dia ela ficou doente, pensei que fosse morrer.

Este episódio foi o meu primeiro contato com a dor. Mas hoje a dor que sinto é bem outra; essa é bem mais doída, deixa rasgos no corpo, na alma, nos cabelos, enfim...

De medo, olho para o céu como quem olha para o infinito e penso… ninguém seria capaz de entender esta dor que me fere a alma. Nem mesmo os deuses da antiga Grécia nos seus dias de maior frescor poderiam decifrá-la por inteiro.

Como é duro o sentir só! Esta coisa besta de pensar que ninguém está a nos ver é que me dói. É este sentir-me responsável pelos próximos minutos da minha vida é que me desmantela. Como um João sem braços, sinto-me como se só a mim coubesse a responsabilidade de me mostrar, de me fazer ver.

É um pesadelo querer ser útil e perceber que as pessoas, de modo geral, não estão nem aí, afinal, cada qual têm seus pecados e alegrias. Portanto tenho que aprender a lidar com as minhas questões e resolvê-las dentro de mim, não importa como e nem com quem deveria dividi-las.

Estou tentando compreender o que acontece comigo, com as pessoas, com as minhas Pessoas!!! Andamos todos tão abestalhadamente ocupados que não cabemos uns nos outros e o que é pior... um dia não muito distante vamos todos acabar como começamos por pura vaidade.