Seu nome - Ariano

Era verão ... Não me lembro o ano... 2000 e qualquer coisa por aí... Um pouco mais, um pouco menos. Salvador. Centro Histórico.

O evento: homenagem a Jorge Amado.

Estávamos, eu e minha família, há pouco tempo nas terras baianas. E eu, deslumbradíssima, como sempre fui, sempre sou, e sempre serei... AMÉM... em relação a pessoas das quais gosto, especialmente as ligadas à Literatura.

A Fundação Casa de Jorge Amado toda paramentada. Corais cheios de crianças e adolescentes, nas sacadas do “patrimônio amadiano”... Luzes, holofotes... e ‘cercados’... Sim, faixas avisando até onde a plebe poderia circular. Eu, como havia recebido um convite de uma amiga para ir com minha família ao evento, estava em um local privilegiado. Ainda assim, não tão privilegiado quanto as mais variadas autoridades ao meu redor.

Mas, naquele momento, estava eu amando tudo, até a faixa que nos separava dos grandes artistas, e tudo o mais...

De repente, do outro lado da rua, vejo uma figura debruçada numa sacada olhando a movimentação. Era uma das sacadas de um dos casarões ao lado do Grande Casarão (próximo ao local onde estávamos eu e minha família). Quase nem acreditei. Foi quando eu disse à minha filha>> “Filha, olha o Ariano Suassuna!!!”

E ela, apesar da pouca idade, já acostumadíssima com leituras diversas, inclusive de livros dele, disse>> “O Ariano Suassuna é aquele velhinho?”...

A pergunta dela soou-me tão indelicada quanto se ela tivesse dito um palavrão. E não me lembro do que eu disse a ela, mas me lembro de que pensei em conversar a respeito depois.

Estava eu ali para ver homenagem a Jorge Amado e, de quebra, veria Ariano Suassuna? Não tinha tempo para broncas em filhos. E não iria deixar de registrar aquela cena - pensei. Mas cadê minha máquina? Não sabia mais onde estava... Revira bolsa daqui, mexe dali, quase tive um treco. Mas achei a bendita. E então, desci os degraus, atravessei a rua e dei alguns passos em direção à sacada onde se encontrava um dos meus escritores favoritos. E tirei várias fotos. Todas de longe.

E eis que um Ariano, sorridente, percebeu os flashes... começou a acenar. Olhei de um lado, Olhei de outro. Seriam aqueles acenos para mim?

E eram.

Quando percebi, falei, ainda de longe: Posso continuar a fotografar?

Ele pediu, com as mãos, que eu esperasse. E eu esperei. Então, ele desceu as escadas e veio ao meu encontro.

Algumas pessoas rodearam-no. Poucas tiraram fotos. Creio que muitos não o reconheceram... E ele conseguiu chegar livremente até onde estávamos.

Ele perguntou de onde eu era... Trocamos algumas palavras. Apresentei minha família. Falei que eu trabalhava com Literatura, citei algumas obras dele que eu admirava... Ele elogiou o Estado do Paraná... falou alguma coisa sobre o Brasil e suas precariedades... E me abraçou (a melhor parte...rs)... Tiramos várias fotos. E ele terminou nosso papo dizendo: “bela família, bela escritora e professora de Literatura. Cuide bem disso tudo e não pare, nem com a família, nem com a literatura”.

Eu só consegui dizer “obrigada”.

Ele se foi. Atravessou a multidão e voltou para a sacada. Eu quase me esqueço do que ali fazia. E para quem a noite era destinada – a outro escritor.

Enfim, naquela noite, para mim, fora um encontro inusitado, daqueles que a gente diz: “Só isso?”... Ou “Tudo isso?”... Ou... “Isso tem importância?... Ou "que faço eu agora?", ou, ou e ou...

Sei lá... Mas tem algo do que mais me lembro dessa noite, juntamente com o conselho de cuidar da família e da literatura...

... De Ariano Suassuna descendo as escadas para vir ao meu encontro em meio à multidão para tirar fotos comigo. Isso... nem sei como nomear... Não sei se meus filhos se lembram desse dia, e desse momento. A mim: Inesquecível!

Só isso.

Muitos anos depois, recebi um prêmio de Literatura, cujo homenageado-MOR era justamente Ariano. Desse dia, não tenho fotos com ele, mas tenho o orgulho de ter feito parte de um momento em que ele estava sendo homenageado num momento em que eu vivia o momento.

No mais. Só tenho a dizer: parabéns por sua trajetória aqui na terra, grande Ariano.

E obrigada. Sua vida trouxe muita vida a muita gente.

Acredite.

(E um dia, se me permitir, eu não vou descer, mas sim, vou subir as escadas de minha sacada, e tirarei milhares de fotos com você).

Com carinho.

Adriana Luz.

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