NO CAMPEONATO COM MINHA FAMÍLIA

Crônica

NO CAMPEONATO COM MINHA FAMÍLIA

A vida literalmente é comparada a um campo de futebol. Hora nos vestimos de coragem, hora de insegurança. Muitas vezes retrocedemos frente às diversidades ou avançamos com determinação para vencer. O campeonato já tinha começado e no silêncio da madrugada eu estava inquieta vendo meus filhos e netos dormindo. Senti angústia ao lembrar-me do momento em que eu havia sido áspera com eles e percebi nitidamente que as lágrimas oficializavam o meu arrependimento. Observei que meu marido dormia tranquilo e eu estava ali, orando por minha família.

As preocupações me deixavam impaciente. A vida é dura como em campo, há sempre um adversário e nem todas às vezes somos os melhores. Não temos a habilidade de Neymar, mas precisamos acreditar em nosso potencial quando alguém tentar bloquear seu caminho. De repente sou arrebatada dos meus incansáveis pensamentos por causa do choro que vem do outro quarto, é um netinho que acorda e pede pra ficar na minha cama. Ainda que eu balbucie monossílabas de conforto, reconheço que meu papel de avó é muito restrito, porém ainda consigo suprir minusculosamente a falta da mãe ausente. Logo sou revitalizada pelo afago do netinho e nos acomodamos no leito até ele dormir.

Fazendo uma brusca analogia da minha historia com um campeonato, percebo que, cada um tem sua função, daí a preocupação dos pais em cuidar da sua prole. Nesse âmbito familiar, eu consigo dominar o adversário tentando incutir nos meus filhos a visão de que sempre haverá competição, seja no trabalho, na faculdade. Tentarão sucatear teus sonhos para que desista.

Mais uma noite findou-se, amanheceu. Eu permaneço sem sono, mas cansada. Tenho nas mãos uma Bíblia, é tudo em que acredito. Vejo que todos acordam eufóricos, sou surpreendida pelos dois netinhos que abraçam-me pedindo café, essa é a hora de arregaçar as mangas do seu time e dizer a torcida que está em campo para vencer. Ainda que as barreiras apareçam e que lamentavelmente surja um inesperado cartão amarelo... Afinal, quem não comete delitos?

E no final do primeiro tempo, meu marido chega de mansinho, talvez movido pelo resultado parcial do jogo, e me dar um beijo. Estranhei, não demorou muito pra que eu me observasse no espelho e tentasse esconder as rugas que denunciavam minha idade, mas era hora de resgatar meu relacionamento... São trinta anos de casados. Sigo em busca do gol pretendido, a torcida vibra, é minha família e amigos apoiando-me nessa decisão, dando-me uma injeção de ânimo para prosseguir.

Meus problemas não se dissipam como termina uma partida de futebol, mas os comparo quando tento driblar aqueles que desejam impedir-me de ser feliz. Fazer um gol é sempre bom, e criar um método revolucionário como fizeram os alemães é ainda melhor. E se eu fracassar no gol de Penalt? É só erguer a cabeça, não deixar que a torcida revoltada te detone com ofensas, mesmo assim poderá ser um vencedor.

E pra final de campeonato, tenho uma linda família, um marido que me ama, meus filhos terão seu próprio sustento, meus netinhos um futuro promissor... E por que não fazer o gol da minha estorieta? É goooooooooooooooooooooool.

ARTESGS
Enviado por ARTESGS em 23/07/2014
Reeditado em 06/08/2014
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