CHORO ESTRIDENTE E CAFÉ SEM AÇÚCAR
Doze horas de voo intermináveis. Pouco espaço para pernas tão compridas. No balançar de algumas turbulências sobrevivi. Meu tédio. Minhas horas vazias, que passaram sendo sentidas por mim. Os segundos contados, em um horário diferente. Fiz minha revolução audiovisual: quatro filmes de longa duração, mas o tempo de viagem parecia nem se mexer.
O avião atravessou a noite. Impressão de frio...muito frio lá fora, sensação de calor la dentro. Calor humano, na certa.
Um almoço estranho. Comida estranha, com bebida estranha e aeromoça estranha. Meus olhares estavam começando a ficar blindados, para tentar esquecer tudo aquilo.
Não quis me irritar, mas jurei que se tivesse um paraquedas, certamente me jogaria do Lufthansa. Pernas dormentes, lombar em pedaços, então, com certeza, precisaria de uma cadeira de rodas para chegar até a porta e me jogar, rumo à terra firme.
Em meio a tudo isso, Coffe... tea?
- Quero um café, mas faço questão de ir lá embaixo buscar, pensei, sorrindo por dentro. Quem me dera o café fosse um ponto positivo em meio ao caos aéreo. Tudo bem, não foi. Preto, típico do café. Cheiroso, típico do café. Forte, sem açúcar e com dose extra de ''deus me livre'', típico de um café mal feito.
Café ensurdecedor e ruim, assim como o choro da pequena bebê, sem culpa de estar ali e que começou um grande berreiro, expandindo seus pulmões a cada berro. Foi a descida. Os pequenos ouvidos estavam sofrendo com a mudança brusca de altura.
Alguém, por favor me salve? Do avião, do café e do bebê.