A construção de um autor
Para Cecília
A vida é mesmo cheia de surpresas e muito presente. Na verdade, a vida é. Verbo, ponto. E tudo que é deixa rastros, sensações, lembranças: mãe, pai, avó, irmão, irmã, o rio de Piraju, bons ares de Botucatu, as canções dos Beatles e a batida de violão do João, namoro no jardim, serenata, livros de Karl May, Tesouro da Juventude, filmes na matiné, domingueiras embaladas com cuba libre, primeiras impressões da cidade grande, o primeiro fusca – vermelho, 68 – e o vestibular... Depois, os alunos, os filhos, os netos, tudo comprovando que realmente a vida é. Verbo anômalo.
Quando me flagro revendo minhas marcas e cicatrizes, percebo que nunca fui muito de andar em trilhos, mesmo porque sempre dei total preferência às trilhas. E foram muitas trilhas...
O que interessa aqui é que, numa dessas trilhas fui construído autor de livros educativos. Sim, fui construído, porque ninguém nasce autor. Um autor se constrói aos poucos, com paciência, perseverança, aposta, esperança e muito trabalho. Ah, e muita gente, muitos operários anônimos, filas infindáveis de formigas levando folhas, tramando palavras, frases, imagens, jeitos de fazer e muita pontuação, com ênfase aos pontos de interrogação.
A vida é mesmo cheia de surpresas e muito presente. Na minha construção de autor, no bairro do Bexiga, numa editora em que todos se conheciam, sentei-me com minha primeira editora: Maria Cecília Mendes de Almeida. Uma moça que sabia ouvir e reconhecia o momento de falar. De dizer muitos sins e muitos nãos, de falar com os olhos o que sabia e questionar o que ainda não sabia. De virar de ponta cabeça, com ironia muito doce e críticas pontuadas, algumas das certezas que eu como aprendiz de autor trazia. Enquanto eu pensava na página, demorei a perceber que ela vislumbrava a obra. Foi impossível não me tornar seu amigo.
E a vida trazendo recortes: cobranças de prazos intercaladas com canções do Chico na noite paulistana, troca de textos e discussões sobre gramática com molho da macarronada do almoço na cantina, escolha de ilustrações e exposição de fotografias.
Feito past up, como antigamente, colo os recortes com bastão de cola PRIT no papel quadriculado das nossas histórias, e sinto que continuo aprendendo as lições de coisas. Hoje revisei que a vida é. E aprendi que Cecília também é. Verbo. E ponto final.
Para Cecília
A vida é mesmo cheia de surpresas e muito presente. Na verdade, a vida é. Verbo, ponto. E tudo que é deixa rastros, sensações, lembranças: mãe, pai, avó, irmão, irmã, o rio de Piraju, bons ares de Botucatu, as canções dos Beatles e a batida de violão do João, namoro no jardim, serenata, livros de Karl May, Tesouro da Juventude, filmes na matiné, domingueiras embaladas com cuba libre, primeiras impressões da cidade grande, o primeiro fusca – vermelho, 68 – e o vestibular... Depois, os alunos, os filhos, os netos, tudo comprovando que realmente a vida é. Verbo anômalo.
Quando me flagro revendo minhas marcas e cicatrizes, percebo que nunca fui muito de andar em trilhos, mesmo porque sempre dei total preferência às trilhas. E foram muitas trilhas...
O que interessa aqui é que, numa dessas trilhas fui construído autor de livros educativos. Sim, fui construído, porque ninguém nasce autor. Um autor se constrói aos poucos, com paciência, perseverança, aposta, esperança e muito trabalho. Ah, e muita gente, muitos operários anônimos, filas infindáveis de formigas levando folhas, tramando palavras, frases, imagens, jeitos de fazer e muita pontuação, com ênfase aos pontos de interrogação.
A vida é mesmo cheia de surpresas e muito presente. Na minha construção de autor, no bairro do Bexiga, numa editora em que todos se conheciam, sentei-me com minha primeira editora: Maria Cecília Mendes de Almeida. Uma moça que sabia ouvir e reconhecia o momento de falar. De dizer muitos sins e muitos nãos, de falar com os olhos o que sabia e questionar o que ainda não sabia. De virar de ponta cabeça, com ironia muito doce e críticas pontuadas, algumas das certezas que eu como aprendiz de autor trazia. Enquanto eu pensava na página, demorei a perceber que ela vislumbrava a obra. Foi impossível não me tornar seu amigo.
E a vida trazendo recortes: cobranças de prazos intercaladas com canções do Chico na noite paulistana, troca de textos e discussões sobre gramática com molho da macarronada do almoço na cantina, escolha de ilustrações e exposição de fotografias.
Feito past up, como antigamente, colo os recortes com bastão de cola PRIT no papel quadriculado das nossas histórias, e sinto que continuo aprendendo as lições de coisas. Hoje revisei que a vida é. E aprendi que Cecília também é. Verbo. E ponto final.