Apelidos - cronicas do serviço público
Essencial na amizade é o apelido. Nada mais íntimo do que tratar seu verdadeiro amigo pelo apelido. Mas nem todos pegam.
Antroponímia é o estudo do nome das pessoas. As origens relacionadas com a cultura, a história, as instituições, a política, os costumes e por isso reveste-se de importância. Os antropônimos, nomes que nos identificam, muito podem explicar da nossa trajetória ascendente. O nome de batismo, os prenomes, sobrenomes, alcunhas e apelidos, são explicáveis. Os nomes carregam designação de ofício e de localidade. Os apelidos são substituição carinhosa, lisonjeira do nome próprio. A alcunha, por outro é depreciativa, derivada de alguma particularidade física ou moral do indivíduo.
Tratar o amigo, familiar, colega, pelo apelido é como estabelecer um protocolo de comunicação, abrindo para assuntos muito além dos informais. É pré-condição para que os interlocutores entendam-se que estão iniciando uma comunicação, uma troca de informações que a priori não tem limites. As experiências, fatos, conjecturas, posições, críticas, conselhos, a troca de toda a informação pode transitar do mais público ao mais particular conteúdo, sem qualquer pré-condição, pois no nível estabelecido não há uma relação de competição, senão uma cooperação, uma complementação, um ganha/ganha, baseado na convivência frequente e confiança mútua. Tratar alguém pelo apelido, diante de outros é como estender um véu de proteção na relação consolidada entre o tratante e o tratado.
O apelido não pode ser portanto percebido como uma mácula, diferente da alcunha. Essa é instituída normalmente por um integrante do grupo de convivência, contra a vontade do "batizado" e pega se o grupo assume como correspondente. Assim podemos ao longo da vida transitar por diferentes grupos, escola, amigos da rua, grupo do futebol, trabalho, universidade, exército e amealhar diferentes alcunhas. A Alcunha pode evoluir e vir a ser apelido, desde que a origem não possa ser aferida pelo grupo, ou a mácula embutida seja aceitável e superável pelo batizado.
Continuo no serviço público. Recentemente completei vinte e cinco anos. Servidor civil, não prestei serviço militar, fui classificado no “excesso de contingente”. Reconheço muitos colegas pelos apelidos, não sei os seus nomes.
Com essa curiosidade que herdei de minha mãe, não pude deixar de anotar a diversidade, os inusitados e criativos apelidos que registro: cascatinha, melão, cachorrinho, seca, elefante, barriga, gargamel, ponto e vírgula, queixada, pé feio, alemão, repolho, bico, morcilha, passinho, palha, maçarico, pinga fogo, marimbondo, juca, miro,ponto e vírgula, deixaqueeuchuto, vermeio, minot, cabeção, boneco...
Essa prática é tão arraigada que até o relógio biométrico interativo ganhou um codinome: Ana Maria, e pelo sotaque é paulista.
Nesses instantes, em que se acumulam na saída, esperando a liberação da Ana Maria, vou anotando descobertas das bocas distraídas. Se o dia está para chuva e alguém alegre se manifesta. Pronto: É ganso.