NOSSA RUA

e souza

Em 1969, ou pouco depois, onde morávamos a rua era bem calma, aliás o bairro era bastante calmo, a paz dos moradores só era quebrada nos sábados à noite na casa do Robertinho, com os nossos bailes, mas o pai dele Dr. Haroldo não quis mais, e por falar em Haroldo, até hoje nos falamos, estou dizendo do Dr. Haroldo Filho. Nosso clube ficava nos fundos de sua casa, tentamos fazer um bailinho na sala, também não deu certo, a mãe do Robertinho mandou todo mundo embora. Bem, todo mundo é exagero, só estávamos, o Paulo, Pascoal, Percio, Perci, Betinho, Claudinho e eu. O Pedrinho não foi, porque era muito pequeno ainda. Uma semana depois já havíamos arranjado outro lugar, agora era na casa do Paulo, mas o pai dele botou a gente para correr, daí sobrou a casa do Paulinho Rios, mas também não durou muito tempo, a mãe dele também não aguentou. Foi nesta casa que eu me apaixonei pela primeira vez, a vítima devia ter uns 18 anos, nós a chamávamos de “dula”, a Heloisa, hoje Dra., Heloisa, com muito mérito. Mas eu logo esqueci, os carrinhos de rolimã e as bicicletas chamavam mais minha atenção, também com 10 anos, eu queria o quê? Resolvi que nosso clube deveria ser lá em casa mesmo, não tinhamos para onde correr. Em nossa casa tinhamos aquilo que chamávamos de ilha, cercada de árvores e grama por todos os lados e belas palmeiras. Na ilha, uma mesa de vidro com 4 cadeiras, era um lugar todo especial. Lá fomos nós, os caras daí de cima, Paulo..., o Perci foi para torrar nossa paciência, pura maldade minha, ele é uma pessoa maravilhosa! O Claudio ficou assistindo o nosso jogo de dominó e cuidando do Perci. Fizemos as duplas, ia me esquecendo, o Percio e o Betinho não estavam, bem, a dupla que fosse perdendo teria de tirar uma peça de roupa. Penso que vimos isso na televisão, ou sei la onde, eu só não entendia o por quê não convidávamos nossas amigas. Eu jamais fui bom em dominó e o Paulo, pior ainda, resultado; ficamos nus correndo pelo quintal em plena três da tarde, eu só não contava com minha avó paterna e minhas primas nos observando naqueles trajes, ou melhor, sem traje algum e foi assim que perdemos mais um lugar do clube. Aí vieram os carrinhos de rolimã, eram uns dez, descendo a Raiz, nossa rua, depois o número de participantes foi aumentando, até que a vizinhança quase nos expulsou do bairro. Tentamos escolher outro brinquedo que não fizesse tanto barulho. Por que não bicicletas? E em algumas semanas tinhamos cada um a sua. A rua ficou muito pequena e íamos para todo canto com as “magrelas”, pulávamos rampas com uma prancha de madeira e uma lata de tinta cheia de pedras. Os tombos eram inevitáveis, mas a gente não se quebrava tanto. Até que algum espírito de porco inventou de colocar uma carta de baralho no garfo de modo que a outra ponta da carta ficasse entre os aros da roda e quando andávamos fazia um barulho mais ou menos assim: “trá, trá, trá, trátrátrátrarárárárárárá... aquele barulho era o caos para os vizinhos e ganhávamos às vezes chuva de ovos, banho de esguicho, sem contar as palavras de carinho que eram dirigidas às nossas progenitoras. Passamos a brincar de “galinha morta”, a brincadeira consiste em juntar as quatro pontas de uma folha de jornal, logicamente furtada dos nossos pais e havia de ser do jornal do dia, senão, onde estava a graça? Aquela folha tomava aspecto de almofada, colocávamos fogo em uma das pontas, depois de toda queimada ficava leve e subia e voava com o vento e cada um de nós tentava acertá-la com uma pedra, até que o Percio olhando para cima, não viu uma pedra caindo em sua direção, que lhe rendeu um dente quebrado, mas concertou um tempo depois. Fomos também proibidos de praticar essa brincadeira depois que alguns vizinhos denunciaram algumas vidraças quebradas. Já um pouco mais velhos, passamos a brincar de “beijo, abraço, aperto de mão”, eu achava essa brincadeira muito melhor que as outras, porque as meninas também brincavam, mas não deu muito certo. O Perci era quem tapava os nossos olhos e fazia as perguntas: “é essa?” “ou essa?”. Antes porém, combinamos com ele para que quando fosse uma garota que queríamos beijar, ele nos daria um toque, daí pedíamos beijo na boca, mas quando destapava nossos olhos é que víamos o que tinhamos escolhido: Era um menino! Daí mandamos o Perci sair da brincadeira e ele ria muito. Foi uma ótima passagem pela Rua Raiz da Serra, hoje é uma das mais movimentadas do bairro.

Depois eu conto do dia em que nosso cão, Help fez uma lambança.

e-mail: edsontomazdesouza@gmail.com

E Souza
Enviado por E Souza em 21/07/2014
Reeditado em 28/07/2014
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