Mula

Aula de História da Educação, no curso de Magistério, com a professora Nalva, gira em torno de resenhas do livro, por ela adotado! Uma mesmice de fazer inveja à própria rotina... Nada muda!

Nesta noite algo novo no ar! Após, passar o ponto da resenha, a professora senta na cadeira na mesa dos professores, abaixa a cabeça, a mão esquerda sobre os olhos, a mão direita começa a escrever num papel invisível..., a caneta, também é invisível. Murmura algo... Desconexado!

“Você não presta! Sua vagabunda! Desça desta mesa, pára com essa dança erótica, sua puta!”

A sala se aquieta... Alunas assustadas olham umas para as outras, sem entender nada!

O palavrório continua...

“Você não presta! Sua vagabunda! Desça desta mesa, pára com essa dança erótica, sua puta! Dançarina ordinária. O rei Henrique VIII, logo lhe manda matar! Ele cansa fácil da sua lassidão, concubina, vagabunda”.

A professora treme, treme, treme..., feito geléia de mocotó! Levanta e de olhos semicerrados vem na direção das alunas!

De repente, para bem ao meu lado, olho surpresa para ela!

“Você foi uma aliciadora de homens, uma dançarina promíscua..., mulher das mil faces, das mil artimanhas... sua paga esta vindo, agora, o mal... esta instalado no seu corpo.”

E continua: “Você é uma mula e carrega oito escravos na costa. Vai pagar todo mal feito, nesta sua reencarnação, maldita”.

Começo a chorar copiosamente! O caos se instala na sala de aula. A professora retorna a sua mesa. Uma aluna foi procurar e volta com a diretora... Elas assistem à última parte da fala da Nalva.

A Diretora a retira da classe e pede para todas se acalmarem. Rita, minha amiga me entrega um copo d’água tem as mãos tremulas. Eu estou trêmula, sem entender ainda; o que de fato aconteceu!?

Nalva volta à classe e tenta se desculpar usando o artífice de ter incorporado um negro escravo. O espírito a fez entender sobre o meu passado..., os meus atos impensados haviam se instalado feito chaga no meu corpo!

Eu de fato havia recebido a notícia afirmativa do retorno do câncer! O tratamento para combatê-lo vai ser muito difícil. Não acredito em nada daquilo que ela falou. Ela me conhece de longa data e, sabe do problema sério de saúde, que, vez ou outra, me ronda... Tenho a certeza que a professora precisa de ajuda de um psiquiatra!