TIA JUDITH
- Etelvina, há quanto tempo não aparece em Governador Valadares!
- Aproveitei o meu neto, que veio a serviço, e vim com ele.
- Não te vejo desde que seu marido morreu. Como vai a sua saúde?
- Minha saúde é de ferro e o meu coração de menina. E você, Judith, como está?
- Infelizmente, não posso dizer o mesmo. Tenho artrite, bursite, catarata, dor de cabeça, enxaqueca, fraqueza.
- Maninha, por favor, não vá até o final do alfabeto. Pelo jeito, só vai pular a letra M, de menstruação.
-Tive uma ideia. Já que estou em sua casa, vamos visitar o nosso mano Dionísio, em Colatina?
-Vamos, sim. O pobrezinho está em cima de uma cama. Nós já estamos “pra lá de Bagdá”, que nem pedras de dominó em fileirinha. Quando começarmos a cair será em série.
No outro dia, as irmãs pegaram o trem de ferro e sentaram-se.
Um rapaz disse à tia Judith:
-Vovó, a senhora está na minha poltrona.
-Bom dia, meu jovem.
- Eu disse que este lugar é meu.
- Obrigadinha. Você é um anjo.
- A senhora não entendeu. Estava sentado aqui e, enquanto fui ao banheiro, a senhora ocupou o meu espaço.
- Você é um menino de ouro.
- Por favor, levante-se.
- Você vai para o céu, sabia?
Cansado de pelejar com a idosa, o passageiro foi para outro vagão.
Ao chegarem em Colatina exaustas, ansiosas para descerem, foram logo para a porta de saída. Lá encontraram-se com o ex-dono da poltrona que, preocupado com a idade avançada das senhoras, gritou no ouvido da titia:
- Vão devagar!
- Fale baixo, rapaz! Está pensando que sou surda?