De reinos e princesas

No nordeste da África, mais precisamente na fronteira entre o Egito e o Sudão, fica uma área desértica e montanhosa de aproximadamente 2 mil quilômetros quadrados chamada Bir Tawil. É uma região pobre em recursos naturais e isso justifica que, até o mês passado, ninguém tenha reivindicado a sua posse. Foi quando um americano da Virgínia fincou uma bandeira no local – uma bandeira desenhada por seus filhos, cheia de estrelas, raios de sol e uma coroa. Com esse gesto, ele anunciava ao mundo: “Uma nova nação foi fundada. Reconheçam-na”. E, como os ideais republicanos do Ocidente não satisfaziam as aspirações desta nova nação, proclamou para ela o regime monárquico – único até o momento capaz de suscitar princesas. Tendo ele uma filha de 7 anos que não deseja outra coisa da vida, o homem não teve dúvidas: fez-se rei, fê-la princesa.

A pequena agora não anda sem uma coroa na cabeça e o pai recomenda a todos os amigos que a chamem como convém, ou seja, com o título de princesa. Não se trata de faz de conta: há planos para que o reino prospere e a princesa já declarou ser favorável a que ele se transforme em um centro agrícola. É preciso ainda algumas formalidades, como o reconhecimento das nações vizinhas, mas isso não impede que a menina já se sinta uma princesa e considere a nova condição “muito legal”.

Assim dizem as agências de notícias e, afora um ou outro encantamento pelo gesto do pai (capaz de vasculhar o mundo atrás de uma terra de ninguém apenas para satisfazer o sonho da filha), o que mais se ouviu foram críticas a uma sociedade em que as meninas ainda têm como ideal se tornar princesas. Pensei no que faria eu se um dia Talita me pedisse coisa semelhante. Certamente não teria disposição para tamanha empreitada, mas é possível que, pelo menos no início, eu desse um jeito para que ela se sentisse um pouco princesa também – para desgosto dos educadores. Acho que eu não seria um bom pai. Mas, por sorte, Talita ainda nem nasceu.

milkau
Enviado por milkau em 21/07/2014
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