80 ANOS DE SAUDADES DO PADRE CÍCERO ROMÃO BATISTA
Luiz Barros Pereira
Hoje, 20 de julho de 2014, a praça da capela de nossa Senhora do Perpetuo Socorro na cidade de Juazeiro do Norte, Ceará, amanheceu repletas de romeiros e romeiras, afilhados e afilhadas do padre Cícero Romão Batista. Todos entoavam cheios de saudades um bendito bem popular de domínio público:
“Meu padrinho,
Quanta saudades o Senhor deixou entre nós,
Hoje vivo em nossa luta, dai mais força a nossa voz.
Patriarca do Juazeiro, cancioneiro do sertão”.
Hoje celebramos os 80 anos da morte (páscoa) do padre Cícero a quem os romeiros chamam carinhosamente de meu “Padim Ciço”.. Deixou o Juazeiro, que no dizer dos romeiros, vez uma viagem, pois os santos e os heróis do povo não morrem, mas permanecem vivos na memória e no imaginário simbólico.
O padre Cícero no Juazeiro foi tudo para o povo. Padre, padrinho, conselheiro e prefeito. Soube unir a fé com a vida. Entendeu logo cedo, que ninguém pode viver isolado, como diz um bendito: “A fraqueza do cristão é viver na solidão, unidos somos fortes no amor e no perdão”.
Divulgou e convocou o povo do Juazeiro a participar de uma irmandade. Ninguém estava fora de um grupo e ninguém vivia sem a oração e o trabalho. Dizia que e mente ociosa era “oficina do diabo”. Por isso, ele dizia que cada casa no Juazeiro, devia ser um oratório e uma oficina.
Foi um homem preocupado com o desenvolvimento da cidade. Foi graças a ele que chegou a agência dos Correios e Telégrafos, o campo de aviação, a rede ferroviária ligando o cariri à capital do estado, a primeira escola normal rural do Brasil, sem contar os diversos empreendimentos industriais de acordo com a época.
Foi uma referência política ao modo do seu tempo. Foi prefeito e vice-presidente do estado (vice governador). Entrou na política numa tentativa de desenvolver a cidade para fazer chegar ao povo os bens comuns. Que normalmente fica nas mãos dos cabos eleitorais.
Foi padre dedicado ao povo. Construiu igrejas alicerçadas não somente em pedra e cal, mas na base popular e na fé pura e genuína do povo sertanejo.
Foi perseguido por parte da hierarquia da Igreja, mediante aos fotos do milagre em Juazeiro. No ano de 1889 após uma vigília o padre Cícero ministrou a comunhão às beatas e a hóstia se transformou em sangue na boca da Beata Maria de Araújo. Quando os fatos chegaram aos ouvidos do bispo de Fortaleza, o fato já tinha ganhado espaço nos jornais e entrado no imaginário do povo, que via naquele fato uma segunda redenção de Jesus. A primeira foi em Jerusalém e a segunda na cidade de Juazeiro. Este fato percorreu ligeiramente os sertões nordestinos.
O bispo de Fortaleza constituiu duas comissões para analisar os fatos de Juazeiro. A primeira comissão deu um parecer favorável ao milagre, mas a segunda comissão deu um parecer negativo.
O padre Cícero foi suspenso de ordem, não podendo exercer as funções presbiterais. Ele recorreu a Santa Sé Apostólica em Roma, mas morreu aos 90 anos alquebrado e suspenso de ordem.
Deixa para todos nós um grande legado. Fidelidade na permanência do povo pobre e sofrido. O padrinho que sabia dar uma palavra certa para a pessoa certa.
Permanece vivo entre nós e seus ensinamentos nos orientam na vida:
“Quem matou não mate mais, quem roubou não roube mais”.