CABEÇA OCA SEM SENSO CRÍTICO
Lendo, hoje, como faço todos os domingos, o conto de José Nicodemos – de quem sou fã – cujo foco do texto é a ignorância do eleitorado brasileiro, uma frase me chamou a atenção: “cabeça oca”. Ela remeteu-me ao meu passado, quando eu não passava de uma pobre menina do interior, filha de agricultores, mas precisamente do sítio Milagres em Almino Afonso/RN. Lembro-me de uma expressão do meu pai – falecido – que martela em minha mente até hoje. Sempre fui muito curiosa e questionadora. Por isso sempre procurei me envolver com pessoas que gostassem de estudar. Isto porque aprendi a ler muito cedo, por volta dos cinco anos – naquela época era algo extraordinário – motivada pela literatura de cordel, único recurso impresso que chegava às minhas mãos. A sonoridade dos versos me deixava encantada.
Mas voltado à expressão de José Nicodemos e ainda remetendo-me ao meu pai a frase mais chocante que ouvi dele foi quando, um dia eu disse para ele:
_ Pai, eu vou estudar e me formar.
_ Filho de pobre não se forma minha filha – respondeu ele.
Mas eu, enfática disse:
_ Pois eu vou me formar papai!
Fui à única lá do sítio onde morava a colocar, numa mala de madeira, os poucos pertences que possuía e vir morar em Mossoró aos 16 anos de idade, sem conhecer nada, porém com uma vontade enorme de aprender e na busca pela minha felicidade. Não que eu fosse infeliz lá em meio a tanta beleza natural. Entretanto, as limitações eram ferrenhas. Nem vou enumerá-las porque, dentro de mim, havia uma força gigante: autoconfiança! Eu tinha certeza que se estudasse e me comportasse bem eu iria ser gente – expressão usada na época – para as pessoas de bem.
E consegui. Foi fácil? Nunca! Mas com a ajuda de algumas pessoas e dos meus pais tudo deu certo.
Antes eu era Fatinha, hoje sou Fátima Feitosa. Pedagoga, Especialista em Gestão do Ensino, coordeno vários projetos na escola e contribuo em alguns da 12ª DIRED. Sou escritora, esposa e mãe feliz. E quando um(a) amigo(a) me chama, de propósito, de Fatinha eu brinco:
_ Hoje sou Fátima Feitosa, Fatinha era quando pobre lá no sítio.
O que percebo é que meu pai era um desses tantos “cabeças ocas” que José Nicodemos cita em seu conto no Jornal De Fato, não por falta de inteligência – isso ele tinha de sobra – mas este era um dos mecanismos usados pelos políticos para matar a fé em si mesmo. Porque só assim eles – há exceções - podem aparecer apenas de quatro em quatro anos e ser bonzinho com o povo condenado a sofrer.
Eu não nasci pra depender de “bondade” de ninguém. Aliás, creio que ninguém nasceu. Pra isso todos nós temos potencial a ser desenvolvido. E este ano é propício para não nos deixarmos ser tratados como “cabeças ocas”, afinal muitos políticos já estão acenado para nós.