Pés descalços?
Tinha uma consulta com uma terapeuta de medicina alternativa. Fazia um bom tempo que sentia vontade de fazer um tratamento desses e ia adiando dia a dia, mas no ano anterior havia sofrido algumas perseguições no trabalho e meu emocional estava no chão. Eu, que sempre fôra muito segura, estava angustiada, insegura, agindo sempre na defensiva...
Agir na defensiva e contra indicado nas relações sociais e era urgente deixar a cabeça e o corpo equilibrados. No caminho, até chegar ao endereço da terapeuta, vinha meditando sobre todas as coisas que me colocara tão insegura no meu dia a dia. Veio tanta coisa à minha cabeça e tão desorganizadas que deixei tudo para depois. Eu as organizaria em meio à conversa com a terapeuta.
Devolvi meu olhar para fora, para as coisas que aconteciam à minha volta e procurei absorver cada coisa que se apresentava no meu caminho:as pessoas, o céu, o vento, as construções, os jardins, as ruas,as ações e reações humanas, mas até aquele instante tudo era muito igual, corriqueiro, sem sal. Tudo dentro das convenções sociais. Olhei o relógio e dei asas aos pés. O ônibus atrasara e, pelos meus cálculos chegaria uns dez minutos atrasada. Que coisa, pensei. De repente, bem à minha frente um ato inusitado. Uma senhora mal vestida e calçada com velhos sapatos vinha mansamente pela rua. Gostei da figura. O ato de andar sem pressa me cativou. De repente, a mulher saiu da calçada e começou a andar do mesmo jeito manso com sapato e tudo dentro da água que provavelmente vinha de alguma casa vizinha. Deveriam estar lavando alguma coisa. Parei e fiquei observando o ato. A travessura de criança não cabia numa mulher madura. Meu coração pulava de contente e quase tirei meus sapatos para fazer a mesma travessura, mas a etiqueta social não recomenda tal atitude a uma mulher adulta. E se alguém me visse? Certamente diriam o que meu pensamento insistia em me dizer embora quisesse exorcizá-lo: "Será que esta mulher é maluca?" Mas já tive vontade de rolar nas folhas das castanheiras do jardim da praia de Santos, já tive vontade de me pendurar em galhos de árvores em plena rua, já tive vontade insuportável de chutar lata na rua só para ouvir o barulho, já tive vontade de abrir os braços para saborear o vento em plena rua, já tive vontade de correr na chuva, já tive vontade de tirar os sapatos em meio à chuva e andar na enxurrada...
Aquela mulher não tinha nada de estranho. Uma alma de criança lhe habitava o corpo de mulher madura e transcendia no simples ato de colocar os pés com sapato e tudo dentro da água que aos olhos parecia fresca. Na rua, quase trinta graus.
Agir na defensiva e contra indicado nas relações sociais e era urgente deixar a cabeça e o corpo equilibrados. No caminho, até chegar ao endereço da terapeuta, vinha meditando sobre todas as coisas que me colocara tão insegura no meu dia a dia. Veio tanta coisa à minha cabeça e tão desorganizadas que deixei tudo para depois. Eu as organizaria em meio à conversa com a terapeuta.
Devolvi meu olhar para fora, para as coisas que aconteciam à minha volta e procurei absorver cada coisa que se apresentava no meu caminho:as pessoas, o céu, o vento, as construções, os jardins, as ruas,as ações e reações humanas, mas até aquele instante tudo era muito igual, corriqueiro, sem sal. Tudo dentro das convenções sociais. Olhei o relógio e dei asas aos pés. O ônibus atrasara e, pelos meus cálculos chegaria uns dez minutos atrasada. Que coisa, pensei. De repente, bem à minha frente um ato inusitado. Uma senhora mal vestida e calçada com velhos sapatos vinha mansamente pela rua. Gostei da figura. O ato de andar sem pressa me cativou. De repente, a mulher saiu da calçada e começou a andar do mesmo jeito manso com sapato e tudo dentro da água que provavelmente vinha de alguma casa vizinha. Deveriam estar lavando alguma coisa. Parei e fiquei observando o ato. A travessura de criança não cabia numa mulher madura. Meu coração pulava de contente e quase tirei meus sapatos para fazer a mesma travessura, mas a etiqueta social não recomenda tal atitude a uma mulher adulta. E se alguém me visse? Certamente diriam o que meu pensamento insistia em me dizer embora quisesse exorcizá-lo: "Será que esta mulher é maluca?" Mas já tive vontade de rolar nas folhas das castanheiras do jardim da praia de Santos, já tive vontade de me pendurar em galhos de árvores em plena rua, já tive vontade insuportável de chutar lata na rua só para ouvir o barulho, já tive vontade de abrir os braços para saborear o vento em plena rua, já tive vontade de correr na chuva, já tive vontade de tirar os sapatos em meio à chuva e andar na enxurrada...
Aquela mulher não tinha nada de estranho. Uma alma de criança lhe habitava o corpo de mulher madura e transcendia no simples ato de colocar os pés com sapato e tudo dentro da água que aos olhos parecia fresca. Na rua, quase trinta graus.