Papel A4
Mal entrei no ônibus uma senhora de cabelos brancos me sorriu batendo no banco vazio ao seu lado e movimentando a cabeça num gesto de aceite. Abri um largo sorriso e me sentei ao lado dela. Era surpreendente alguém querer que uma pessoa sentasse ao seu lado numa condução coletiva. Até aqueles aos quais nos reportamos com um bom dia, dos quais sabemos o nome e até dividimos espaço no trabalho, vizinhança e outros contatos sociais, nessas ocasiões, preferem ficar sozinhos. Parece que o ônibus abre uma porta para a solidão, mas aquela senhora acabara de abrir uma grande porta para a comunicação.
Ela iniciou uma conversa sobre o tempo. Estava um calor imenso! Dentro do ônibus estávamos fritando, o suor escorria pelo rosto sem trégua.O assunto foi emendado numa conversa sobre a tempestade que caíra sobre a cidade havia alguns dias. Rimos muito de nossa atitude: eu ficara atrás da porta de meu quarto com medo de que o vento quebrasse as vidraças e entrasse em casa fazendo as artes que todos sabemos. Durante instantes, com aquela ventania lá fora, as vidraças pareciam eternas, pois os meus olhos só viam vidraças. Ela ficara andando dentro de casa de um lado para o outro e observava que a chuva inundava o quarto pela janela. O filho lhe perguntara se estava com medo, mas ela negara o que era evidente. Abri minha garrafinha de água e bebi, precisava baixar a temperatura do corpo e comentei: " Se a nossa intenção era conseguir um forno para morar dentro, conseguimos". Ela sorriu e concordou. Ainda ríamos, pois a desconhecida e eu estávamos de alma leve, quando um homem de uns quarenta anos se aproximou com um papel, para o qual eu não havia olhado, e disse: "Dez centavos!" Respondi: "Não tenho." Ato contínuo, o homem tornou a me apresentar o papel: "Dez centavos." Não respondi. Em seguida:"Dez centavos." Pensei: "Que coisa mais incômoda!" E o homem, como se dissesse pela primeira vez... "Dez centavos." Fiquei irritada e perguntei:"Por que insiste tanto em ganhar dez centavos?" Ele me apresentou uma folha com um desenho infantil. Minha cabeça viajou na velocidade da luz. Papel A4, desenho infantil, criança necessitada... Abri a bolsa e tirei de lá um Real. Ele fez questão que eu ficasse com o desenho infantil no papel A4. Em seguida..."Dez centavos." Descontente por não ter calado aquela reza dez centavos, dez centavos, dez centavos... Olhei para o homem firmemente e disse-lhe: "O senhor acabou de me vender um desenho infantil, lembra? Eu lhe dei um Real." Silenciosamente, me deu um troco de noventa centavos. Fiquei impaciente e lhe disse:"Não quero troco!"Ele guardou o troco e mal respirei, lá vem o homem com o mesmo refrão: "Dez centavos." Dessa vez olhei para o papel. Era uma dobradura de um barquinho num papel A4 branco e ponto final. Pensei: "Que insistência!" Então lhe perguntei: "Por que insiste tanto em vender coisa tão sem sentido por dez centavos?" A resposta me arrancou uma gargalhada! Ri de mim mesma. O homem, sem pudor nenhum disse:"Quero montar uma empresa. Aqui não dá, mas em minha cidade..." Olhei para a senhora que estava ao meu lado: "Não acredito que caí nessa! Esse cara é muito inteligente ou então é louco!"
A senhora me segredou que aquela homem estava fazendo aqueles desenhos no banco da rodoviária. Gargalhei mais uma vez.
Muito singular vender coisa tão inútil para correr atrás de um sonho. A senhora e eu nos despedimos. Saí sorrindo.Será que no final das contas teria valido a pena vender loucura num papel A4 em nome de um sonho?
Era louco o sonho ou homem era louco mesmo!
Ela iniciou uma conversa sobre o tempo. Estava um calor imenso! Dentro do ônibus estávamos fritando, o suor escorria pelo rosto sem trégua.O assunto foi emendado numa conversa sobre a tempestade que caíra sobre a cidade havia alguns dias. Rimos muito de nossa atitude: eu ficara atrás da porta de meu quarto com medo de que o vento quebrasse as vidraças e entrasse em casa fazendo as artes que todos sabemos. Durante instantes, com aquela ventania lá fora, as vidraças pareciam eternas, pois os meus olhos só viam vidraças. Ela ficara andando dentro de casa de um lado para o outro e observava que a chuva inundava o quarto pela janela. O filho lhe perguntara se estava com medo, mas ela negara o que era evidente. Abri minha garrafinha de água e bebi, precisava baixar a temperatura do corpo e comentei: " Se a nossa intenção era conseguir um forno para morar dentro, conseguimos". Ela sorriu e concordou. Ainda ríamos, pois a desconhecida e eu estávamos de alma leve, quando um homem de uns quarenta anos se aproximou com um papel, para o qual eu não havia olhado, e disse: "Dez centavos!" Respondi: "Não tenho." Ato contínuo, o homem tornou a me apresentar o papel: "Dez centavos." Não respondi. Em seguida:"Dez centavos." Pensei: "Que coisa mais incômoda!" E o homem, como se dissesse pela primeira vez... "Dez centavos." Fiquei irritada e perguntei:"Por que insiste tanto em ganhar dez centavos?" Ele me apresentou uma folha com um desenho infantil. Minha cabeça viajou na velocidade da luz. Papel A4, desenho infantil, criança necessitada... Abri a bolsa e tirei de lá um Real. Ele fez questão que eu ficasse com o desenho infantil no papel A4. Em seguida..."Dez centavos." Descontente por não ter calado aquela reza dez centavos, dez centavos, dez centavos... Olhei para o homem firmemente e disse-lhe: "O senhor acabou de me vender um desenho infantil, lembra? Eu lhe dei um Real." Silenciosamente, me deu um troco de noventa centavos. Fiquei impaciente e lhe disse:"Não quero troco!"Ele guardou o troco e mal respirei, lá vem o homem com o mesmo refrão: "Dez centavos." Dessa vez olhei para o papel. Era uma dobradura de um barquinho num papel A4 branco e ponto final. Pensei: "Que insistência!" Então lhe perguntei: "Por que insiste tanto em vender coisa tão sem sentido por dez centavos?" A resposta me arrancou uma gargalhada! Ri de mim mesma. O homem, sem pudor nenhum disse:"Quero montar uma empresa. Aqui não dá, mas em minha cidade..." Olhei para a senhora que estava ao meu lado: "Não acredito que caí nessa! Esse cara é muito inteligente ou então é louco!"
A senhora me segredou que aquela homem estava fazendo aqueles desenhos no banco da rodoviária. Gargalhei mais uma vez.
Muito singular vender coisa tão inútil para correr atrás de um sonho. A senhora e eu nos despedimos. Saí sorrindo.Será que no final das contas teria valido a pena vender loucura num papel A4 em nome de um sonho?
Era louco o sonho ou homem era louco mesmo!