Quando me sinto de férias...

Descobri que o dia amanhece diferente quando me sinto de férias e que nesse estado de espírito a lua permanece maior que de costume e as estrelas brilham com mais intensidade.
Percebo com mais facilidade o sabor do café da manhã demorado, já passando das 10:00 horas.
A praia e a neve, as montanhas e os arranha-céus, o trânsito e o bucolismo no campo, o calor e o frio, os aeroportos e meu trajeto diário, tudo se torna diferente quando me sinto de férias.
Quando me sinto de férias a velha calça jeans e meu moletom aconchegante sorriem diferente no abrir do guarda-roupa.
A mala e suas rodinhas desgastadas servem de contador do tempo. Ah, se elas falassem com certeza ouviria berros intermináveis de “fique mais um pouquinho”.
Biquínis, cangas, chapéus, óculos de sol e o bronzeador se agregam na bagagem com prioridades e me faz olhar para o céu e analisar a sua cor e de pronto perceber a movimentação das nuvens para ao final brindar as boas previsões do tempo.
Meia calça fio 80 junto com fio 60, luvas, jaquetas, cachecol, botas e um bom vinho, me fazem lembrar que o frio pode ser maravilhoso quando se sente em constante férias.
Quando passei a me sentir de férias resolvi viajar mais e redescobrir o linguajar de vários povos, enxergando com outros olhos a sua cultura e modo de viver e assim fui me sentindo uma anônima em meu universo particular.
E de viajante fui me transformando em um pouquinho de cada coisa que ia aprendendo nas férias e percebendo que eu não era mais a mesma pessoa quando retornava ao meu cantinho, além de novas amizades e promessas de reencontro em outros lugares.
Passei a perceber que a poesia é grandiosa e estava bem mais presente em tudo em que eu via, sentia, ouvia e nem sempre nas coisas em que eu lia ou talvez escrevia e que facilmente  a compartilhava com um simples olhar ou, quem sabe, em uma dança ao luar.
Não é por acaso que os nossos olhos captam imagens magníficas que nenhuma máquina fotográfica das mais modernas são capazes de captar. Nossos sentidos ficam mais apurados numa ânsia de se viver de tudo.
Rebelei-me dos pragmatismos da vida e me libertei das coisas que me faziam resistir à mudanças. Minhas malas ficam sempre prontas, GPS sempre ligado, e cartões de crédito pulsando para serem usados. Faço de minha vida um livro aberto de poesia, de meu ofício a minha agência de viagens e de meu lar, a minha casinha da árvore ou talvez a minha enseada porque aprendi a viver em intermináveis férias.

 
Renata Rodrigues
Enviado por Renata Rodrigues em 19/07/2014
Reeditado em 20/07/2014
Código do texto: T4888693
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