PRISIONEIRO DA RAZÃO

Felizes são aqueles que não pensam no dia de amanhã nem tampouco no hoje, apenas vivem.

Feliz é aquele que pôde viver um momento de loucura na vida, pois a loucura nos liberta da domiciliar prisão racional. Somos racionais. Pensamos, e nos tornamos escravos do pensamento. Desejamos, nos tornamos escravos dos desejos. Sonhamos, porém criamos muros com intenção de proteger os nossos sonhos. Entretanto, tais sonhos ficam no mundo da abstração. Os nossos sonhos estão protegidos a tal ponto pela razão que nem mesmos os donos dos seus sonhos têm a permissão de achegar-se a eles.

Tenho fome, tenho sede e quero loucamente entrar na casa do pão e mergulhar no rio de águas cristalinas, Mas a razão me diz que estou a ver miragem.

Sou morada de dois inquilinos ferozes que todos os dias digladiam em mim. Um dos inquilinos é atemporal, o outro é temporal. Um é guiado pela fé, o outro pela razão. Um, cuja nacionalidade é de cima, deseja as coisas de cima; o outro que é terrenos só pensam nas coisas da terra.

Sou morada da fé e da razão. Quem dominará o meu ser? Oxalá, fosse eu amnésico para com as preocupações da vida. Quisera eu ser livre das forças endógenas que me sucumbe e me faz alienígena no meu próprio mundo. A quem entregarei o cetro da minha vida, a fé ou a razão? Se a fé, chamar-me-ão de fanático. Se a razão, serei um cético.

Mais uma vez a razão me põe diante da dúvida. A dúvida é minha vara de medir. É por ela que compreendo o quão pequeno sou e quão rasas são as minhas meditações.

Sou prisioneiro da razão. Queria loucamente esquecer que segunda-feira é dia de trabalho, que tenho contas a pagar, que tenho agendas a cumprir. Queria não me preocupar com que pensam de mim. Mas não dá. Eu tenho razão. Ou Não?