Dois Tons de Cinza: é o grisalho um charme?
É comprovado que a gente brasileira está vivendo mais. O Brasileiro está atingindo a longevidade. Com esta conquista é maior o número de pessoas vivendo idades mais avançadas. E cada idade, é importante ressaltar isto, tem a sua beleza.
A estética não é mais exclusividade do infante ou da juventude.
Houve uma época em que as pessoas que “envelheciam” – o cronista prefere dizer: quando se tornavam mais experientes com a idade – procuravam esconder os sinais que lhes denunciavam a idade. Sobretudo pintando os cabelos.
Na rua do cronista havia uma senhora que se atrevia deixar os seus completamente brancos. Era uma alvura que se assemelhava às mechas de algodão. Admiração e espanto eram as reações dos vizinhos. Enquanto a sua geração tingia a cabeleira, ela orgulhosamente expunha à vista as suas madeixas: era a sua vaidade aquele toque exótico. As línguas que gostam de cuidar da vida alheia replicavam:
-Cabelo branco em homem é beleza, mas em mulher é desleixo!
O cronista tomou este tema em razão de viver o charme dos cabelos grisalhos – sabe-se que quando se escreve o “escritor” fala de si mesmo usando uma forma “não intimista” para isto. E se ele for um romancista o seu protagonista tangencia o seu íntimo, ainda que se negue categoricamente isto.
Não sou escritor e muito menos romancista. Sou um observador das inter-relações cotidianas. E já que escrever é meu vício como quem fumava grafo experiências.
O cronista estava no ponto esperando a condução. Avistou-se o ônibus. Olhares: o do cronista para o motorista e vice-versa.
Ao avistar o passageiro o condutor do ônibus de longe abriu as portas com o carro em movimento. Apenas a entrada da frente do lotação se abriu - aquela que sempre é aberta para senhores e senhoras acima de 60 anos entrarem. O passageiro, que se dirigia para a entrada traseira ouviu a impaciência do motorista:
- Vamos senhor, vamos senhor! É por aqui. Cadê a carteirinha, cadê a carteirinha, senhor?
O passageiro com complexo de lentidão respondeu timidamente:
- Não tenho idade – ainda - para usufruir do privilégio de andar gratuitamente em lotação. Eu tenho que passar a roleta para pagar a passagem.
- Está bem, esta bem! Assente-se que o “trocador” virá pegar o dinheiro da passagem. Disse o tal motorista com toda sua impaciência.
Em outra ocasião naquela mesma semana o cronista foi ao banco verificar saldos e fazer saques em sua conta corrente. Os caixas eletrônicos estavam ocupados e somente livre estava o exclusivo para pessoas acima de 60 anos e gestantes. Nisto entrou uma senhora que foi logo ordenando e demonstrando que a pressa dela era maior que sua racionalidade:
- O senhor chegou na frente, utilize o caixa, utilize o caixa, rápido! Estou atrasada!
O único caixa desocupado era aquele e dada a ordenança daquela mulher de mandos e desmandos, o cronista agiu com rapidez e sem pensar: não ouve tempo nem para cavalheirismo de deixar a senhora mandona utilizar o caixa livre.
Conclui-se enfim: é o charme do grisalho que promove facilidades ou enganos.
Dois tons de cinza: memória foi; futuro será?!
Leonardo Lisbôa,
Barbacena, 19/07/2014.
É comprovado que a gente brasileira está vivendo mais. O Brasileiro está atingindo a longevidade. Com esta conquista é maior o número de pessoas vivendo idades mais avançadas. E cada idade, é importante ressaltar isto, tem a sua beleza.
A estética não é mais exclusividade do infante ou da juventude.
Houve uma época em que as pessoas que “envelheciam” – o cronista prefere dizer: quando se tornavam mais experientes com a idade – procuravam esconder os sinais que lhes denunciavam a idade. Sobretudo pintando os cabelos.
Na rua do cronista havia uma senhora que se atrevia deixar os seus completamente brancos. Era uma alvura que se assemelhava às mechas de algodão. Admiração e espanto eram as reações dos vizinhos. Enquanto a sua geração tingia a cabeleira, ela orgulhosamente expunha à vista as suas madeixas: era a sua vaidade aquele toque exótico. As línguas que gostam de cuidar da vida alheia replicavam:
-Cabelo branco em homem é beleza, mas em mulher é desleixo!
O cronista tomou este tema em razão de viver o charme dos cabelos grisalhos – sabe-se que quando se escreve o “escritor” fala de si mesmo usando uma forma “não intimista” para isto. E se ele for um romancista o seu protagonista tangencia o seu íntimo, ainda que se negue categoricamente isto.
Não sou escritor e muito menos romancista. Sou um observador das inter-relações cotidianas. E já que escrever é meu vício como quem fumava grafo experiências.
O cronista estava no ponto esperando a condução. Avistou-se o ônibus. Olhares: o do cronista para o motorista e vice-versa.
Ao avistar o passageiro o condutor do ônibus de longe abriu as portas com o carro em movimento. Apenas a entrada da frente do lotação se abriu - aquela que sempre é aberta para senhores e senhoras acima de 60 anos entrarem. O passageiro, que se dirigia para a entrada traseira ouviu a impaciência do motorista:
- Vamos senhor, vamos senhor! É por aqui. Cadê a carteirinha, cadê a carteirinha, senhor?
O passageiro com complexo de lentidão respondeu timidamente:
- Não tenho idade – ainda - para usufruir do privilégio de andar gratuitamente em lotação. Eu tenho que passar a roleta para pagar a passagem.
- Está bem, esta bem! Assente-se que o “trocador” virá pegar o dinheiro da passagem. Disse o tal motorista com toda sua impaciência.
Em outra ocasião naquela mesma semana o cronista foi ao banco verificar saldos e fazer saques em sua conta corrente. Os caixas eletrônicos estavam ocupados e somente livre estava o exclusivo para pessoas acima de 60 anos e gestantes. Nisto entrou uma senhora que foi logo ordenando e demonstrando que a pressa dela era maior que sua racionalidade:
- O senhor chegou na frente, utilize o caixa, utilize o caixa, rápido! Estou atrasada!
O único caixa desocupado era aquele e dada a ordenança daquela mulher de mandos e desmandos, o cronista agiu com rapidez e sem pensar: não ouve tempo nem para cavalheirismo de deixar a senhora mandona utilizar o caixa livre.
Conclui-se enfim: é o charme do grisalho que promove facilidades ou enganos.
Dois tons de cinza: memória foi; futuro será?!
Leonardo Lisbôa,
Barbacena, 19/07/2014.