Aula de Pilates II
Aula de Pílates II
Sou da década de sessenta. Passei da fase do tanquinho. Depois de conhecer a hidroginástica me candidatei para sessões de Pilates. Tenho atitude. As meias tenho que vestir sozinho. A vizinha me abandonou, não suporta mais o odor de meus pés. Já não lembro qual foi a última vez que fiz uma higiene adequada nessa extremidade distante de meus membros superiores.
Terça passada me acidentei indo à sessão de Pilates. Com tênis nos pés pisei nos cadarços e cai no passeio público. Duas crianças me ajudaram a levantar. Não tive escolha. Troquei os calçados de cadarço por outros com velcro. Tenho uma dívida moral com Georges de Mestral, esse suíço genial que se inspirou em um carrapicho , para nos devolver a dignidade e a independência.
Continuo com a protuberância, não tão saliente. Mas a cada nova sessão sou desafiado. Depois de afirmar de forma orgulhosa da minha capacidade de permanecer em pé e caminhar sem auxílio, fui traído pelo destino. Obrigaram-me a caminhar sobre uma fita, laranja! Legítima corda bamba. Por deus, imediatamente achei que fosse castigo, por ter me vangloriado. Mas não me queixei, estou cozinhando esse angu, para ver onde vai dar.
Meu vocabulário cada dia se amplia, na proporção do conhecimento do meu corpo. Descobri-me com bíceps, tríceps, quádriceps, e por ai vai. Até onde consegui entender, são regiões dos membros superiores, que é preciso trabalhar. Por hora estamos focando no abano ou espanador.
Olha não sou masoquista, mas esse tal de Pilates era um alemão dos mais comuns. Acredito que para desenvolver seus métodos teve contato íntimo com organismos remanescentes da inquisição. Tem momentos que acredito que estou sendo torturados, ao invés de praticar uma disciplina voltada a conservação e desenvolvimento físico.
Ao final da sessão me despedi da orientadora com uma saudação japonesa, curvando a coluna. O tradicional “tchau” com os braços era impossível. Sabia que ainda os tinha porque os via. Desci até o passeio público e desmaiei. Quando acordei, deitado em um leito da emergência, estavam convencidos que eu tinha sido agredido e assaltado. Consenti prontamente. Nada falei sobre o Pilates, eles não acreditariam. Meu estomago dói, acho que vou parar com os antiinflamatórios. O vizinho da frente preocupado me perguntou dos arranhões. Não tive dúvida e disparei: é muita cerca nessa região.