Reprise no Cine Capitólio
O cinema poderia exibir o seguinte: Em 390 a.C., quando os gauleses, considerados bárbaros pelo romanos, “silenciosamente às caladas da noite”, invadiram Roma, somente o Capitólio reagiu: os gansos, consagrados a Juno, protetor do Capitólio, grasnaram e acordaram os soldados romanos que, em cima daquele monte, rechaçaram, de ladeira abaixo, os invasores. Até hoje se preservam o Capitólio e suas edificações, bem perto do Fórum Romano, como memória e história da Antiga Roma, por onde passaram césares, sabinas, vestais dos templos, e, sob encomenda do Papa Paulo III, Michelangelo para arquitetar mármores na Praça do Campidoglio, hoje, tão visitada em Roma.
Porém, em Campina Grande, sob encomenda, querem reprisar a tentativa de demolir o Cine Capitólio; os gansos grasnam, mas tais “técnicos” pouco escutam esses vigilantes alertas. Dois dias atrás, li que “a defesa civil”, ao arrepio da defesa patrimonial, pela enésima vez, recomendaria a demolição do Capitólio à Prefeitura que, não logrando êxito, recorreria ao “juiz” para conseguir a destruição daquele bem patrimonial, novamente com a manjada justificativa de que suas paredes cairiam sobre os transeuntes. Esse filme já foi visto, dezenas de vezes, com a legenda reprisada pelos que saboreiam a sanha imobiliária ou o lucro de custosos projetos para os espaços ocupados pelo Patrimônio. Por que não sugerem escora, como receitam a edifícios ainda de fresca construção? Mas para essa violência “cowboy” a memória pouco vale. Há tempo que o IPHAEP propõe o que agentes culturais, técnicos, arquitetos e engenheiros calculistas sugerem contra tais diatribes: No lugar do Capitólio, não modificar a histórica Praça Clementino Procópio; mas, entre “as robustas e firmes paredes do Capitólio”, construir-se um Centro Cultural e de lazer, onde haveria biblioteca, videoteca, audioteca, sala cinematográfica e, sobretudo, café numa boa livraria de que carece a cidade.
O Cine Capitólio faz parte da fisionomia do Centro Histórico de Campina Grande; indica às nossas lembranças a saída do Centro em direção a Recife, Itabaiana, Ingá ou João Pessoa; constitui-se logradouro privilegiado para várias gerações de Campina rememorarem o endereço dos comícios, cineclubes e amigos cinéfilos. Esse cinema foi ponto de paquera, poltrona do primeiro beijo, início de namoros, de flerte ou de amores que geraram tradicionais famílias da terra. Se amam o passado, cada campinense revive no Capitólio uma significativa circunstância da sua vida. Por que apagar essa história? Recuso-me a rever a reprise desse filme: “Os demolidores do Capitólio”...