UM DIA
Ainda lembro de ontem, das ruas desabitadas faltando pessoas e casas. Eu caminhava para a escola onde me encontraria com a leitura e a escrita, minha obrigação era apenas aprender. Sonhava um dia ser alguém, quem sabe um doutor de terno e gravata, um médico sem muito tempo na vida, quem sabe, um engenheiro ocupado cheio de obras por fazer. Mal sabia que no fundo, dentro de mim eu já era alguém - um aprendiz de poeta, de mente livre, povoada de versos, um eterno sonhador. Lembro-me da feira antiga repleta de frutas deliciosas, que nem sempre eu podia comer, além da falta de tempo, tínhamos outras prioridades como os alimentos principais. Meu pai dizia que o tempo corre, que quando percebemos já estamos velhos. A mais pura verdade, sabedoria popular de quem um dia foi criança e o tempo não o poupou também. Hoje volto e viajo em minhas lembranças, um dia fui menino, tinha meus sonhos e meus pais por perto, mas os ponteiros do relógio, impiedosos, não esperaram e numa corrida viciosa e interminável nos fizeram, aos poucos, entender isso. Lembro-me das histórias que ouvia antes de dormir que falavam de coisas boas, de um ser paterno que iria me protejer dos pesadelos e me ajudar. Então, as noites eram melhor dormidas e eu estava mais "seguro" . Hoje, anos depois tenho alguém para contar aquelas histórias - as que eu ouvia - o tempo também passou, meus cabelos perceberam rápido sua força e continuo aprendendo com as palavras, caminhando nas frases como fazem os verdadeiros aprendizes.
Marcelo Queiroz
17/07/14
07:37h