Aula de pilates
Não é bonito nem saudável ser barrigudo. Sou da década de sessenta. A muito passei pela fase do tanquinho. Acredito mesmo que depois dos trinta é ignorância ser radical, deve ser visto com certa desconfiança a inexistência de qualquer proeminência na região do corpo frontal, na altura da cintura. Isso se for homem.
Mas juntamente com a barriga ganhamos também nariz e uma impossibilidade que vai desde vestir as meias, dar nó nos cadarços até varar uma cerca. Esta última habilidade imprescindível para quem mora na região colonial.
Tomar consciência, constatar que o tempo vai estocando limitações é só o primeiro passo.
E necessário atitude. Eu precisava por o corpo em movimento com auxílio profissional. Num primeiro momento especulei as academias, e imediatamente constatei que aquele espaço não pertencia mais a minha geração. Havia sido invadido por uma espécie híbrida, entre homem e máquina, que ainda se encontra em evolução. Todos com aparatos elétricos nos membros, fios que pendiam dos ouvidos, interligados a equipamentos, sensores, distribuídos pelo corpo. Uma parafernália que exigiria uns 10 anos de aprendizado, tempo esse de que não dispunha.
Passei a procurar algo mais na área de centro de recuperação. Fui visitar uma atividade de hidroginástica. Aquilo era o futuro. Eu ainda não havia chegado a tanto. Não podia fazer atividade com impactos, mas tenho meu orgulho, ainda consigo andar e permanecer em pé.
Achei nessa pesquisa um centro de reabilitação. Me lembrei dos comentários, dos repórteres esportivos, e decidi este é meu lugar. Me matriculei nas aulas de Pilates. Estúdio.
A primeira atividade monitorada pela profissional, me deixou um pouco preocupado. Deitado na posição decúbito dorsal - popular barriga pra cima - corpo e membros estendido, falou-me da respiração e que deveria elevar a região... barriga, para cima. Ar pra fora ao subir e pra dentro ao descer. Não sei porque, tive a impressão que aquilo era uma atividade preventiva para incontinência urinária.
Sou persistente, tenho atitude, fui frequentando as aulas, uma... duas... até três vezes por semana. Certa sessão a atividade exigiu. As dores eram dominantes. Lembro que a orientadora, carinhosamente chamada de professora, Disse: - Senhor sente. Com os pés elevados estenda-os e encolha-os, isso fará com que sinta o abdome. Essa região aqui. Demonstrou com as mãos o exato local. No que eu respondi: -Olha isso não sei se tenho, o que eu tenho mesmo é barriga.
Desenvolvi a atividade e antes da sequência completa se pronunciava aos berros aquela dor na região protuberante.
Não aguentei e me queixei, no que ela disse para me motivar: é para perder a barriga. Retruquei, concordo em perder, grande parte, mas eu conquistei-a no longo prazo, a senhora está querendo que eu me desfaça dela a vista!
Ainda vou as sessões, descobri que tem coisas que se junta ao longo da vida e é impossível se desfazer delas. As cartucheiras, nos acompanharão até os últimos dias.
Estou com saudade da vizinha, que vinha me ajudar a vestir as meias, as vezes tenho uma recaída e ligo pra ela.