No fim, a gente se vira

Sai de casa aos 22 anos de idade – cedo, se pensarmos que, segundo o IBGE, quase 25% dos jovens entre 25 e 34 anos ainda moram na casa dos pais. E mais cedo ainda se pensarmos que eu não estava nem um pouco preparado para isso. Não saí de casa para me casar ou me amancebar com ninguém, embora tivesse isso em mente mais para frente. Se fosse assim, haveria tempo para refletir e pesar as consequências. Simplesmente fui atrás de uma paixão que morava em outra cidade e achei que poderia me mudar para lá. A paixão acabou, naturalmente. Mas eu me deixei ficar na cidade e aqui estou até hoje. Se não fosse por essa loucura, eu ainda estaria em casa, endossando os dados do IBGE.

Como não estava preparado para sair de casa, tive que aprender tudo às pressas. Primeiro, tive que encontrar um lugar para morar. Arrastei-me em casas alheias antes de ter a minha própria casa (que é como eu chamo o quartinho que alugo). Era pequeno, mas estava sob a minha responsabilidade, e isso era novidade. Significava que caberia a mim limpá-lo e que, se estragasse alguma coisa, eu mesmo teria que providenciar o conserto. Ainda não levo jeito para uma coisa nem outra, mas de alguma maneira tenho mantido o meu quarto habitável.

Não sei cozinhar – e mais: não tenho onde cozinhar – mas até hoje tenho me alimentado todos os dias. A princípio com muita porcaria e em intervalos irregulares. Depois vieram problemas gástricos e eu aprendi a comer melhor. Já consigo selecionar no supermercado aquilo que presta. Aliás, passei a ir em supermercado quase todos os dias. Comecei a comparar o preço dos produtos – afinal, eu também preciso organizar o meu dinheiro de tal maneira que ele não me falte no fim do mês, e por enquanto tenho conseguido.

Hoje eu sou, de fato, o maior responsável por aquilo que acontece na minha vida. Não espero que nenhum desses que ainda vive com os pais se atire sozinho em uma cidade desconhecida, mas deixo o meu testemunho: no fim, a gente se vira.