A lourinha do circo

Eu já contei noutro post a minha primeira paixão, que foi a que se deu com a menina Vilminha (aqui).

Pois bem, na crônica abaixo, extraída do livro Menino-Serelepe*, eu conto como consegui esquecer Vilminha, ao conhecer a linda lourinha do trapézio do Circo do Careca.

De todas as amigas da Eunice, houve uma especial, a que me fez esquecer a Vilminha. Quando o famoso Circo do Careca chegou a Aguinhas, foi uma festa só, com a gurizada rodeando os caminhões pra assistir à montagem, ver os animais, conhecer os artistas.

No primeiro grandioso espetáculo, fui com a Eunice e o Evandro, que dona Catarina pagou o ingresso. Tudo foi maravilhoso, mas a menina, loura, de cabelos curtos, de pernas longas e bem torneadas, me encantou. Dia seguinte, na farmácia, ficamos sabendo que a lourinha era filha do palhaço Careca, dono do circo, e não sei por que cargas d’água ela se tornou amiga da Eunice e passou a freqüentar a casa da dona Catarina.

E eu e o Evandro na vaza, que coisa melhor não precisava. Nas bicicletas, andávamos o dia inteiro atrás das duas: passeio pra cá, passeio pra lá, visita a todas as dependências do circo (agora tínhamos o caminho inteiramente franqueado pela nossa amiga). E o circo foi ficando por Aguinhas, e foi uma paixão pasmosa, essa que doce e suavemente fomos curtindo pela lindalourinhafilhadopalhaçocarecadocircodomesmonome.

Quando, enfim, o circo foi embora, levando a lourinha do trapézio, só de pensar nela o peito apertava e já nos subia um quentume embolado com frio na barriga — uma sensação nova — e nunca mais fomos os mesmos.

(E a alma romântica dos meninos curtia sua paixão como adultos ouvindo no Standard Eletric de móvel as trilhas sonoras de Marcelino Pão e Vinho, A Violeteira, O Mágico de Oz e de todos os filmes do Joselito.)

Para recordar

              - Joselito (aqui) 
             - Marcelino Pão e Vinho (aqui)         
           - A Violeteira (aqui)
              - O Mágico de Oz (aqui)
(*) Esta narrativa faz parte do livro Menino-Serelepe - Um antigo menino levado contando vantagem, uma ficção baseada em fatos reais da vida do autor, numa cidadezinha do interior de Minas Gerais, nos anos 1960.
 O livro é de autoria de Antônio Lobo Guimarães, pseudônimo com que Antônio Carlos Guimarães (Guima, de Aguinhas) assina a série MEMÓRIAS DE ÁGUINHAS. Veja acima o tópico Livros à Venda.