MONOLOGO DO SONHO
MONOLOGO DO SONHO
Tenho notado algumas coisas estranhas em mim quando bebo;
Meu lado direito do rosto inclusive o queixo fica mexendo,
No outro dia meu estomago ficou inchado,
Estou com uma dor leve na perna esquerda,
Minha coluna dói na quinta vértebra,
Na junção da bacia com o fêmur dói.
Não vou cobrir
Meu trazeiro com as mãos,
Não não vou.
O que estamos fazendo aqui?
Falo com meus olhos
E ai fico calado.
Olha olha ai,
Olha ai, ai
é o poeta.
Tenho apenas três reais
nesta praça da estação de inverno.
Olha ai,
Ai de mim.
Tenho apenas seis meses,
Nesta cidade sem almas.
”Éh professor o banheiro é logo ali.
Acho que Camus conheceu o Brasil.
Roubo casaco de pele
Na rua Guaicurus que anda nua.
Sou porteiro de zona,
A zona é sensual.
Procuro um bem
Entre as pedras da mulher
Que vem ali muda,
Mas pra quem deixarei minha herança?
Acabou a bateria.
Eu faço parte do publico
Que escreveu essa droga.x
Vá para o inferno
Vá pro inferno.
Um pico na veia,
Um cachimbo na boca.
Nunca vi uma baleia
E nem sei falar Chinês.
Dei a minha vida as formigas,
E flores de plásticos
as velhinhas do asilo
Para que não beijem
Seus perfumes,
Mas que não se esqueçam
Que elas existem.
As velhinhas transam o passado.
Não vou fazer discursos
Pra estas pilastras da cidade,
Com seus olhos de labirinto.
Não vou vender meus sonhos
Mas vou empenhar os pesadelos.
Relax pai,
Relaxa pai.
Acho que é verdade
O que rosnam por ai.
Ora esqueça,
Esqueça.
O amor joga pedras
Pelo caminho,
Pra não se perder,
Uma tempestade de rosas
Passam por minha cabeça,
Um mar de rosas
Passa por mim.
Eu tenho uma foto
Preto e branco.
De terninho cinza
Caminho pelas vielas
Da America do sul.
O rio prata me chama,
Minha chama.
Quando estamos por aqui
Lembro da cela na prisão,
Braços longos,
Lábios finos,
Pernas fortes,
Olhos negros,
no cabelo uma flor
e um buque na mão.
Agora que temos
Essa cidade nas mãos.
Que baile o povo,
Que baile o povo.
Procuro uma saída,
Uma saída.
Espero um grito
Perfurado por balas da policia publica.
A saída,
Há saída?
Preciso de um coração,
Sem maldades,
Preciso de um coração
Cheio de amor,
Esperança,
Sonhos,
e uma causa.
Eu sou um poeta sem causa.
Não quero nem saber
O que os médicos pensam.
Quero uma cerveja gelada,
(eu odeio cerveja).
Minha tosse esta seca,
“Tenho tesão por
Zizi Possi.”
Não tenho sua posse.
Fui á caixa econômica fazer
prova de vida,
“Fiquei na fila do caixa
Por quatro horas e me deram
Uma certidão de óbito
Por minha presença”.
Professor você esta ai?
Me dé a sua lição.
Qual lição?
“Você foi embora
Sem falar o que dizer”.
A cirrose é uma rosa
Que flutua entre
O rins e o umbigo.
Não quero ver tv
Inale o poema,
Cuspa o poema
Sobre o sangue H positivo.
Gritos na escada,
Vassouras varrendo
A rua repleta minhas guimbas
De câncer radioativo.
Poupo meus ossos
E vim ao seminário.
Eu corri pelas ruas,
Corri.
Balas de menta
esquentavam meus cabelos.
Corri,
El corri.
No terraço de alvenaria
Bailei com minha mãe.
Pulei muros,
Cercas e viadutos.
Bailei com minha mãe
No terraço de alvenaria.
A menina do quaro andar
foi á escola.
Teve tiros,
Teve poeira subindo
Aos seus pés no beco
Esquina com avenida Liege.
Temos tanto medo da noite....
As onda bate no bar
O bar meio bêbado,
Bate.
Bate o sol.
Meio dia, meio dia.
Meu fígado diz basta,
Um cofre pinga sobre mim
Suas notas de ferro.
Feroz rosna a noite.
Eu cinqüenta anos,
Quatro filhos,
Uns netos espalhados por ai
Como as pedras da rua.
Ultimamente ando esquecido
Pelos os cantos dos becos.
Agarro as peruas na rua,
Beijo seus mamilos
E ganho alguns reais
Para me embebedar
Nos bares desta cela
Repleta de ruas.
Roubo um pão.
Aonde anda bidiago,
Iço e didão?
Subíamos nos eucaliptos
Da renascença á procura de
Sobras de comida e pão velho.
Cirrose, rosa roxa
Que consome minha opera.
Esse teatro é meu,
Sou seu único amigo
E estou no inferno.
cadeiras viradas, copos
quebrados.
Ossos tortos,
Veias retorcidas,
Nervos trincados.
Lamina de gilete.
Espelho opaco,
Espelhos.