UM ÓCULOS POR TRÁS DE UM CORPO FRÁGIL!
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Sou apenas e não passo de um óculos de 7,5 graus, bifocal caminhando lento em um corpo frágil de 54 anos que, que perdeu a lateralidade da visão, só vê a vida para frente, mas que sente as dores das pessoas e escreve por puro prazer. No passado, fui um homem comum, com defeitos comuns, mas que não me se escondia atrás de óculos, mas fiquei totalmente surdo ao 46 anos e que passei a viver desde então infectado por duas bactérias hospitalares incuráveis, que as recebidas de presente pela minha ousadia de querer ouvir as dores do mundo novamente. Quatro anos mais tarde, após a aposentadoria precoce por invalidez, ganhou de presente do companheiro jornalista Marcelo Lucena, esse blog para exercitar o que já gostava de fazer, ocupando meu tempo e não sofrer de depressão pela aposentadoria aos 50 anos. Com o tempo, ganhou o mundo e hoje o blog é lido em 46 países, a cujas pessoas sou imensamente grato!
Mas, agora, sou apenas um óculos que caminha pelo condomínio Mundi, em companhia do síndico Antônio Paiva e/ou do administrador Roberto Marques Valin, como membro do Conselho Fiscal e a experiência de já ter sido síndico. O Condomínio Mundi é formado por 11 torres, 740 apartamentos e é dividido em três etapas com uma nesga de floresta preservada à margem de um igarapé que separa as Etapas R1 – Ilhas do Caribe e R2 -Ilhas da Oceania, com 6 torres, da R3-Ilhas da Europa ligadas por uma ponte. O resultado da invasão, foi a destruição de uma reserva de floresta primária. Hoje, mesmo só olhando para frente como deve ser vista, caminhando lento e sem muito equilíbrio, vou passando o dedo em locais e mostrando a sujeira que consigo tirar. Por ser agora apenas um morador chato por trás dos óculos, sempre ouço do síndico, com muito carinho essa frase: “Carlos, não é sujeira o que você vê. É seu dedo que anda sempre sujo de tanto passar na sujeira que você vê!”. Gostei, companheiro, porque você também é um poeta escondido no corpo de um advogado!
Depois que recebi uma mensagem carinhosa do ex-presidente Francisco Bezerra, vi minha vida sendo projetada como um filme de época e recordei aos prontos de quando dirigi duas instituições paraestatais federais por doze anos, sempre recordando dos conselhos do amigo e companheiro, Dr. Maury de Macedo Bringel: “seja enérgico; porém, delicado”. Eu fui assim, enérgico quando necessário, e delicado quando podia ser! Hoje, sou apenas um óculos caminhando lento e olhando para frente, que investiu em imóveis, para viver de aluguel e de minha reduzida aposentadoria não planejada, aos 50 anos. Mesmo assim, vejo, como assistente social, sinto e registro em crônicas as dores de pessoas envolvidas com drogas, crack, com os péssimos atendimentos médicos, a falta de moradia, saneamento, segurança. É uma pena que a Previdência Social, nos reajustes que faz, nunca acompanha o ganho real que tinha quando trabalhava. Todos os partidos políticos em campanha prometem, mas não conseguem acabar com o Fator Previdenciário, implantado durante o Governo FHC! Promessas, promessas e só promessas...
Sou um corpo frágil que caminha e olha para frente porque a vida não pode parar no tempo que e vai mais rápidodo que meu corpo pode caminhar, mas, mesmo assim, ainda planeja, almeja, projeta e não se desespera – exceto quando soube pela infectologista Dra. Silvana Lima e Silva que as bactérias que se alojaram no alto de meu cérebro, em uma espécie de casulo, não poderiam ser curadas nem com células troncos. Aceitei e chorei na época, porque foi como se tivessem jogado um balde de água fria em meu corpo quente pelo desejo de ter cura e viver um pouco mais! Com o tempo, aceitei sem traumas, mágoas ou rancores de ninguém!
Tentei superar meu medo de viver infectado quando aceitei voltar a fazer palestra para 80 alunos de Serviço Social da Uninorte, da professora Darcy Amorim. Gaguejei nas leituras das transparências que havia elaborado e, ela decidiu lê-las em conjunto com os alunos para que eu as explicasse depois, uma por uma as afirmações que fizera nas projeções em uma tela branca – que me fez lembrar do teto da UTI no Hospital Santa Júlia, onde permaneci em coma por 10 dias. Entre uma tosse e outra pela garganta seca, embora tendo uma garrafa de água e um copo para bebê-la, explicava e respondia a todas as perguntas ou questionamentos feitos pelos alunos presentes. Fui recebido por todos com muito carinho e isso me fez feliz demais! Também senti vergonha e uma decepção porque tossia a cada vez que começava a explicar o que havia escrito Mas acho que isso não foi percebido pela turma. Eu espero que não!
Hoje, nada sou do que fui em passado. Dos poucos e duradouros empregos que tive, me restaram lembranças marcantes de muitos, mas principalmente quando era professor no curso de Serviço Social na Faculdade Nilton Lins, de meu trabalho como superintendente do Sinetram, iniciando como assessor de comunicação indicado para substituir o Dr. Maury de Macedo Bringel, antes que a juíza Elzira Ewerton decretasse intervenção. Depois, a juíza se elegeu deputada federal e eu, desempregado e sem nada a receber pelo meu serviço executado, segui com o presidente Francisco Bezerra e fui indicado e nomeado como técnico do Conselho Regional Norte da FETRANORTE. Nessa condição, recordo-me da procura e compra do terreno do empresário imobiliário Paulo Farias & Imóveis para a construção, instalação e inauguração da Unidade 12 Manaus, do SEST/SENAT, para a qual fui nomeado e passei 12 anos dirigindo-a. Lembro e sinto saudades dos muitos amigos que fiz, com os quais despachava e não os nominarei para não esquecer e ferir alguém. Hoje, a Unidade é conhecida como “Francisco Saldanha Bezerra”, por indicação do membro do Conselho Regional Washginton José Braga do Vale, de Santarém.
Lembro-me de que como professor universitário, perdi minha audição em sala de aula, devido a um empiema cerebral que pressionou meu cérebro em 5 cm,. Recordo-me das sucessivas internações em emergência e das 11 cirurgias no cérebro a que fui submetido desde então -cinco pelo Dr. Dante Luis Garcia Rivera, duas pelo Dr. José Vieira, em Manaus e duas pelos médicos paulistas Antônio Almeida e Valéria Moyo, quando fui diagnosticado com câncer terminal em metástase. Também, fiquei sabendo por minha esposa Yara que tinha permanecido dos 10 dias, 45 dias sem memória e 15 sem fala, depois da mais demorada cirurgia de 7 horas a que me submeti com uma equipe de vários profissionais, liderada pelo Dr. Dante. Da emoção que senti ao ver amigo Flávio Willer Candido, ao retornar do coma e ele me pedindo: “Carlos, se você estiver me ouvindo, descruza tuas pernas!”. Mecanicamente, as descruzei, mas nem sabia que estavam cruzadas! Depois, chamou minha esposa e a informou que eu havia saído do coma e lhe perguntei quantos dias tinha ficado em coma e ela me contou tudo. Não acreditei porque pensei que tinha sido um único dia e no dia seguinte retornei vendo nas paredes brancas as letras que só eu via na parede branca da UTI SJS, que as interpretei como sendo as iniciais de “SÓ JESUS SALVA”. Pedi a minha esposa para ir ver de perto as letras e ela dizendo que nada havia, mas para qualquer parte da parede que eu olhasse, via sempre as mesmas letras SJS.
Todas as lembranças do passado que escrevo agora foram motivadas pelo whatsapp que recebi do presidente do Conselho Regional Norte, administrador Francisco Bezerra, dizendo apenas isso: “Carlos, bom dia, estou em Rio Branco/AC, visitando a Unidade daqui, recordando viagens que já fizemos para esta cidade desde a época em que o atual senador Jorge Viana era prefeito de Rio Branco. DEUS, a cada dia, restabeleça sua saúde. Avante!”. É presidente, sonhamos juntos, realizamos juntos em 38 anos de convivência. Depois de ler sua mensagem simples e sincera, desabei no choro porque e lembrei que trabalhamos juntos por tantos anos, desde que o senhor era apenas um interventor do Banco do Estado do Amazonas, na empresa de transportes coletivos Viama e cursava administração de empresas na UFAM e eu o assessorava na área da Comunicação Social e depois me formei em Serviço Social! Mas nunca lhe disse muito obrigado pelo senhor ter existido e permanecido ao meu lado por tantos anos. Digo agora, nessa crônica.