Aquilino Ribeiro

Tenho momentos em que me proponho escrever qualquer coisa sem que, no entanto, tenha pensado em algo. Como por magia, bastou ver esta primeira frase para verificar que duas já estão. De tão óbvio, até parece uma de La Palisse, com todo o respeito que me merece este herói, que nada fez para ser mencionado de forma tão negativa. Ora bem, dando seguimento a este meu raciocínio, constato que tinha razão o grande mestre das letras, Aquilino Ribeiro, quando dizia que “alcança quem não cansa”,

Mas quem é este senhor, ou melhor, quem foi, perguntarão vocês? Para muitos, até parece ofensivo não saber que foi um dos maiores romancistas portugueses, com honras de Panteão Nacional, autor de 70 volumes (ele mesmo designava-se como um “obreiro das letras”). Porém, como tudo na vida, haverá muita boa gente que não o conhece. Não vou descrever os muitos livros que escreveu nem o facto de ser proposto para Prémio Nobel pelos maiores da língua portuguesa. Vou só fazer uma pequena síntese de alguém que considero um génio das letras. Eu sou suspeito, uma vez que tenho uma autêntica veneração pela sua obra.

Sendo que os Cinco reis de gente (1948) e Quando os lobos uivam (1958), por serem talvez os primeiros que li, aqueles que figuram entre os melhores dos melhores. A riqueza do seu vocabulário obriga-nos a ter um dicionário à mão para consulta sem que isso seja um contra para o prazer da leitura. Muito pelo contrário, a sua riqueza é tal, que nos faz ajoelhar perante o seu saber e sentirmo-nos maravilhados perante as terminologias linguísticas do meio rural, assombrando-nos por nunca serem repetidas.

Eu acho isso maravilhoso! Pois quem escreve, sabe bem a dificuldade que é escrever sem repetir palavras e conseguir do leitor toda a atenção. Isso sim é um dom em que Aquilino Ribeiro foi mestre.

Uma vida riquíssima de conteúdo, onde fugas e prisões fizeram parte da sua vida, devido ao seu envolvimento Republicano. Com 22 anos Ligou-se à Carbonária, braço armado da Maçonaria, evidenciando a sua forte personalidade, a mesma que fez com que fosse expulso do curso de Teologia que frequentava no seminário de Beja.

Guarda no seu quarto da Rua do Carrião, dois caixotes com cargas de TNT. Gonçalves Lopes, um professor do Liceu do Carmo e Belmonte de Lemos, um adelo (Comércio de objetos usados; adeleiro, ferro-velho) da Rua dos Fanqueiros, ao manipularem os explosivos no quarto de Aquilino, provocam uma terrível explosão que vitimou ambos. Aquilino sai ileso, mas é detido.

Foi um dos que foi implicado no do regicídio do rei D. Carlos e do príncipe Luís Filipe em 1908, embora nunca o tenha assumido. Ora para quem estudara para seguir uma carreira eclesiástica (abandonou por falta de vocação), a sua vida era tudo menos que a de um “menino do coro”. Mas neste caso, é o escritor que eu admiro, eu e muita gente com muita mais proficiência, cito:

“É um inimigo do Regime. Dir-lhe-á mal de mim; mas não importa: é um grande escritor”. - António de Oliveira Salazar

“Conheci em Aquilino Ribeiro, de quem me prezo de ter sido amigo e de quem continuo, cada vez mais, com o passar dos anos e as sucessivas leituras, rendido admirador”. - Mário Soares

Para não me alongar mais sobre Aquilino Ribeiro, cuja vida e obra seria tema para vários volumes, remato só com uma frase do mestre:

“O pior dos crimes é produzir vinho mau, engarrafá-lo e servi-lo aos amigos”.

Num país que produz os melhores vinhos do mundo, não poderia estar mais de acordo.

Lorde
Enviado por Lorde em 16/07/2014
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