Diário de Sonhos - #081: Vegetais e Carnes Assadas
Sonhei que estava a serviço no Metrô de São Paulo, eu e mais alguns colegas, como o Reginaldo, Henry e Laneri. Nosso supervisor tinha mandado a gente ir buscar não sei o que em outra estação. Chegamos lá e era uma blusa. A costureira disse que ia demorar mais alguns dias, então fomos embora.
As estações de Metrô estavam suspensas no ar, a uma altura muito elevada. Havia uma gigantesca passarela que conectava todas as estações. Como a nossa estava perto, resolvemos ir a pé. Uma chuva muito forte pegou a gente no caminho, e começamos a correr. Eu fiquei pra trás, primeiro porque sou gordo (e gordo sempre se fode), e segundo porque eu estava usando sandálias de couro que não estavam bem presas. Como a chuva estava terrível, resolvemos parar um pouco numa outra estação. Lá fomos recebidos pelas meninas da limpeza que nos forneceram toalhas para nos secarmos.
Olhando em volta, era uma estação bem peculiar. Na verdade, parecia muito mais um tipo de restaurante. O ambiente era muito escuro, com luzes bem fracas. Algumas mesas de ébano e algumas poucas pessoas comendo em silêncio. Uma delas me chamou a atenção. Era um senhor, muito velho. Parecia chinês. Muito magro, usava calça e colete verde-musgo, sem camisa por baixo do colete. Usava também um boné verde. Seu cabelo, muito branco e longo, caía sobre seu rosto, dividindo-se em duas mechas quando atingiam o enorme nariz vermelho. Também tinha uma longa barba, de modo que de seu rosto era apenas possível ver seu enorme nariz vermelho. Logo ao lado dava pra ver a cozinha. Lá dentro, homens em trajes de cozinheiro impecavelmente brancos andavam pra lá e pra cá atarefados. Sobre suas cabeças foi esticado um pano branco, cobrindo-as por completo. Não entendia como eles respiravam com aquilo. A cozinha era toda banhada por uma luz vermelha, dando uma sensação desagradavelmente infernal. Logo perto da porta havia um gigantesco termômetro oscilante.
De repente um barulho. Olhamos para o teto. Este parecia estar derretendo, e um buraco se abriu. Um homem muito bizarro surge. Ele é careca e gordo. Ele é metade homem e metade máquina, lembrando uma gigantesca aranha gorda. Seu rosto molhado de suor, branco e liso. Sua expressão é de ódio. Um de seus olhos foi substituído por um olho mecânico, como uma pequena luneta. Ele grita:
- Quem trouxe esses moleques para cá? Eles estão molhados e frios. Eles vão abaixar a temperatura ambiente. Basta um único grau Celsiu diferente para estragar toda a comida!
O velhinho barbudo se assusta.
- Oh não! O que podemos fazer pra não estragar?
- Divida os alimentos! - diz o dono do restaurante, e some em seu buraco nojento. O teto se refaz e fica sólido outra vez.
O velhinho repete a frase algumas vezes, encarando seu prato.
- Divida os alimentos... Bom. Segundo a antiga tradição da humanidade, os alimentos são divididos em vegetais... - Ele hesita e pensa.
- E carnes assadas! - Diz em voz alta, orgulhoso de seu raciocínio.
Eu e meus amigos resolvemos ir embora. O supervisor daquela estação era um pé no saco.
Dezesseis de julho de dois mil e quatorze.